quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Deus que restaura sonhos

 


  Em Mc 9.14-32 temos uma história que também está sendo apresentada por Mateus (Mt 17.14-21) e Lucas (Lc 9.37-42). Uma coisa fica clara em ambas referências, que Jesus não estava presente quando o pai chega com o menino que está possesso por um demônio que o oprime de forma terrível.

  Jesus havia passado a noite no monte que depois ficou conhecido por todos nós como monte da transfiguração, nesta feita estavam acompanhando Jesus os discípulos Pedro, Thiago e João. Estes três discípulos viveram um momento extraordinário durante essa madrugada, pois ao mesmo tempo que Jesus começou a ficar resplandecente, apareceram duas personalidades muito especiais na história de Israel, Moisés e Elias, os discípulos até queriam erguer tendas para Moisés e Elias, mas estes desapareceram e pôde ser ouvida por eles a voz de Deus que dizia: “Este é o meu Filho, o Escolhido; ouçam-no”.

  É muito interessante observarmos isso, quando Jesus está com esses discípulos no monte, vivendo essas experiências, lá embaixo do monte os outros discípulos também estão vivendo uma experiência, mas bem diferente. Um pai desesperado traz seu filho para que estes discípulos expulsem o demônio que o oprime, mas estes não conseguem expulsar e isso acaba gerando uma grande discussão entre eles e os mestres da lei que em todo tempo buscavam uma maneira de criticar e condenar as obras de Jesus, eram verdadeiros “juízes cegos de causas espirituais”, mas o pior de tudo isso é que os discípulos caíram neste laço e entraram na discussão.

  Ao ler o texto e observar a cena, penso que o pai continua desesperado com seu filho nos braços enquanto os mestres da Lei se ocupam em uma discussão da qual nenhum deles tem capacidade de julgar corretamente.

  Jesus chama Pedro, Thiago e João para subir ao monte e nesta parte sempre fiquei imaginando como não deveriam ter ficado os outros discípulos, o que passava pela cabeça deles, sempre pensei que no lugar deles eu iria ficar muito indignado, pois desejaria também ser mais íntimo a ponto de ser chamado para estar junto de Jesus em cada momento. Sempre pensei e falei que ao retornarem, os demais estavam ansiosos para saber o que havia acontecido, mas talvez isso não tenha acontecido, pois no retorno deles os discípulos estavam envolvidos em uma grande discussão, podemos perceber que havia muita gente reunida neste momento

  Que experiências podemos viver quando estamos sempre com Jesus, certamente muito diferentes das que viveremos sem ter Ele por perto.

  É claro que nessa história existe todo um contexto, mas a aplicação dela nos serve de grande ensinamento, uma coisa é viver na intimidade com Jesus, outra é ter nome de discípulo e viver longe dele, é bem provável que o mundo nos reconheça como discípulos d’Ele, mas que o mundo espiritual não nos reconheça.

  Essa história também vai nos ensinar sobre a fé, pois ter Jesus de forma visível nos traz segurança diante dos levantes do adversário, mas nem sempre a presença d’Ele será percebida através dos nossos sentidos, apenas a fé nos possibilitará crer em sua companhia em todos os momentos. Existiram dois momentos em que o Evangelho vai relatar que os discípulos enfrentaram grande tempestade no mar, a primeira delas Jesus estava dormindo no barco, eles então foram acordá-lo e perguntaram se Ele não se importava que estivessem perecendo? Jesus então mandou o vento se aquietar e disse-lhes: Por que vocês estão com tanto medo? Ainda não tendes fé?” (Mc 4.35-41)

  Neste primeiro episódio no mar os discípulos ficaram atemorizados e se questionavam, quem seria este que até o vento e o mar obedecia, mas houve uma segunda experiência, mas nessa Jesus despede seus discípulos dizendo que iria orar, mas que atravessassem o mar que ele os encontraria, mas ao chegarem no meio do mar, começou um forte vento contrário e eles remavam usando todas as suas forças e já cansados pelas ondas contrárias, diz o texto que Jesus estava vendo tudo o que acontecia, veio andando sobre as águas e pensaram que se tratava de um fantasma, nesta feita que Pedro andou sobre as águas (Mc 6.45-51), quando Jesus acalmou mais uma vez a tempestade, diz Mateus que eles disseram: “Verdadeiramente este é o Filho de Deus” (Mt 14.33).

  Eu vejo duas situações muito parecidas em que os discípulos acabam agindo de forma semelhante, sem fé. Na primeira Jesus está presente, foi fácil sacudi-lo e chama-lo para acalmar a tempestade, mas Ele os advertiu dizendo que a fé deles era muito pequena e isso os faziam ser escravos do medo, na segunda vez que passaram pela mesma experiência Jesus escolheu não estar de corpo presente no barco, mas de longe olhava tudo, mesmo assim preferiam usar a força do braço para lutar contra o vento e as ondas, quando deveriam usar a fé.

  O problema da falta de fé não é apenas desistirmos e não lutarmos contra os ventos contrários, na verdade o problema pode ser bem maior, pois quando não lutamos com a fé em questões espirituais acabamos lutando com nossas próprias forças, ou começamos a pensar que Jesus não se importa conosco. Quantos ventos serão necessários passarmos para lutarmos com a fé e não pela força do nosso braço?

  Existem duas perguntas de Jesus que me chamaram atenção neste texto quando o Senhor mais uma vez me levou a meditar, a primeira é:

  O que vocês estão discutindo? (Mc 9.16)

  É muito irônico ver os discípulos no meio dessa discussão, sendo que no final da história eles vão até Jesus perguntar o porquê de não conseguirem expulsar o demônio do rapaz, ora, se eles não sabiam o que estava acontecendo. Como poderiam discutir?

   Por outro lado, temos os mestres da Lei, homens religiosos que se sentiam na condição de juízes de causas espirituais pelo conhecimento que tinham e pela posição que ocupavam. Eu realmente não sei quais eram os argumentos de ambas as partes nessa discussão, mas eu vejo neles uma característica muitas vezes nossa, aquela em que nos fazemos mestres de questões que estão além da nossa capacidade de explicar e julgar.

  Lembro-me de um dia ter escrito sobre Ez 37, quando Deus leva o profeta em uma visão ao meio de um vale de ossos que estavam sequíssimos e faz ao profeta Ezequiel uma pergunta: “Filho do homem, poderão reviver estes ossos?”. A pergunta é feita por Deus, mas Ezequiel nos dá um grande exemplo e talvez isso faça dele um profeta diferenciado, ele nos ensina que não importa quando capítulos já tenham passado na nossa história com Deus e no ministério, existem coisas que devemos ter humildade e simplesmente dizer: “Não sei, mas Deus sabe”.

  Isso pode parecer covardia, pode parecer que estamos nos esquivando dos debates, sim até devemos evitá-los, mas não é só evitarmos debates, nós realmente não sabemos de tudo, e na maioria das vezes o que nos falta é o discernimento. Por isso essa pergunta de Jesus me chama tanto a atenção, “o que tanto discutimos?”, “por que tão facilmente caímos nesse laço?”. Existem coisas que acontecem ou que não acontecem que deveriam nos levar a buscar em Deus resposta, buscar entender o que Deus quer fazer ou dizer através de cada situação. Cuidado para não se tornar um juiz cego de causas espirituais!  

  Jesus então atende ao pai do rapaz e diz que se ele crer, tudo é possível ao que crer, Mateus nos deixa um detalhe que Marcos e Lucas não deixa, que a nossa fé só precisa ser do tamanho de um grão de mostarda e que se a tivermos poderemos dizer ao monte para se transportar para o meio dos mares e ele obedecerá, Jesus não estava falando de forma literal, mas de questões espirituais, que coisas impossíveis iriam acontecer quando usássemos nossa fé, que poderíamos dizer aos demônios que saíssem do meio do nosso caminho, que saísse da vida dos nossos entes queridos, nessa feita, do filho.

  Quando falou com o pai do menino, Jesus fez uma pergunta, “Há quanto tempo ele está assim”(Mc 9.21),  creio que Jesus sabia quanto tempo aquele rapaz estava naquela situação, mas que ao perguntar, era para que os seus discípulos e os mestres da Lei soubessem que, enquanto eles perdiam tempo discutindo, um filho continuava oprimido e um pai desesperado, eu entendo essa pergunta de outra forma quando chega a mim: “Quanto tempo você vai perder com discussões ou com coisas que não te levarão a lugar nenhum enquanto seu filho está oprimido por demônios? Quanto tempo vai perder em guerras egoístas enquanto pessoas entram pelas portas da igreja esperando encontrar nos discípulos de Jesus ajuda? Mas que acabam encontrando discípulos sem Mestre.

  “Filhos são como sonhos de pernas”, isso foi o que eu disse a minha esposa quando Deus colocou essa palavra no meu coração, que os filhos ainda estão no ventre e nós sonhamos como será o rostinho quando sair, e quando sai, sonhamos com o dia que vai falar as primeiras palavras, sonhamos com os primeiros passos, sonhamos com o seu futuro esperando ser um grande servo ou serva de Deus, mas assim como este pai da história, vemos muitos sonhos se perdendo no caminho, vemos o diabo se apossando e destruindo muitos sonhos.

  Mas vemos nos evangelhos a história de pais que buscaram no lugar certo terem seus sonhos restaurados, vemos a mulher siro-fenícia, mesmo não sendo judia e recebendo um “não” de Jesus, o adorou e disse que as migalhas que vinham dele seria suficientes, Jesus libertou a filha dela, vemos o caso desse pai que desesperado tirou seu filho da água e do fogo, pois o demônio o tentava matar, este vindo a Jesus teve seu filho restaurado, temos também a filha de Jairo, chefe de uma sinagoga, um líder da religião, mas que ao ter sua filha perecendo em sua cama, se prostrou aos pés de Jesus e este decidiu entrar na sua casa, seja alguém que não pertence a Israel, seja como esse pai ou um líder religioso, se buscarmos a restauração dos nossos filhos em Jesus, Ele pode restaurá-los.

  Pense nisso! Deus te abençoe!

5 comentários:

  1. Q Deus continue abençoando sua vida e lhe usando. Gostaria de pedir solicitação para citar esse seu texto na oportunidade que terei na minha igreja essa noite!

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    1. A Paz! Claro, essa Palavra não é minha, é de Deus para nós. Fique a vontade.

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  2. Que venha-mos ter humildade e simplesmente dizer; "eu não sei, mas Deus sabe".

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  3. Que venha-mos ter humildade e simplesmente dizer; "eu não sei, mas Deus sabe".

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