O desafio do ministério.
“Então Jesus entrou numa casa, e novamente
reuniu-se ali uma multidão, de modo que Ele e os seus discípulo não conseguiam
comer.”
Mc
3.20
Ao
olhar este texto junto ao seu contexto vejo com clareza a vida das pessoas que
Jesus chamou para assumir uma posição de autoridade na sua obra, nos é
necessário ter uma visão equilibrada e coerente de acordo com a realidade de
cada um, porém, aqui temos uma ideia do sentido real de fazer parte do
ministério.
Jesus
acabara de dar autoridade aos doze discípulos (Mc 3.13-19), que nós conhecemos como apóstolos, é muito importante
saber que, ser um apóstolo não era receber um título, mas sim uma autoridade
diferenciada para serviço do Reino, entender isso pode nos ajudar a entender
que ao fazer parte do ministério seja em qual função for, não temos como objetivo receber admiração ou
reconhecimento pelo título, mas torna-se nosso maior objetivo o serviço com o
máximo de engajamento possível, algo que de maneira nenhuma poderia ser menor
ou igual aos seguidores comuns que acompanham Jesus.
Neste texto
de Marcos os discípulos estavam tão ocupados que não tinham condições ou tempo
para comer, este detalhe nos chama muito a atenção, pois este texto vem logo
após a “consagração” dos apóstolos, o que esperar dos dias seguintes após a
consagração? Precisamos entender que seguir a Jesus e compor seu ministério irá
exigir de nós muita renúncia, e renúncia em todos os níveis e em todos eles nós
teremos como prioridade servir ao povo que é amado por Jesus.
Eles não
tinham tempo para comer, ou seja, eles não tinham tempo para eles mesmos, para
as suas coisas.
Jesus quando
esteve com a mulher samaritana disse algo que se encaixa nesta situação, Ele
disse que a sua comida é fazer a vontade do Pai e concluir a sua obra (Jo 4.34).
Se nós não estivermos cientes disso podemos ter muitos problemas no ministério
e causar muitos problemas também.
Uma
questão de equilíbrio e consciência.
Quanto tempo
durava um dia de Jesus e dos apóstolos, será que eles tinham mais ou menos
horas no seu dia do que nós? Será que eles não tinham seus compromissos, seus
afazeres? Sim, apesar de a sociedade e cultura serem bem distintas da nossa,
eles também tinham suas ocupações quotidianas, porém, ao assumirem essa posição
de autoridade, estavam também se comprometendo com tudo o que ela exigiria
deles, hoje nós não temos nem condições de comparar o nosso nível de
envolvimento com o desses homens, até por conta da diferença que há entre nós e
eles e do nosso tempo com o deles, porém uma coisa aprendemos aqui e indefere
de tempo e cultura, o fato de que ao fazer parte do ministério, haverá momentos
que não teremos mesmo tempo para nós, pois estaremos muito ocupados cuidando
das pessoas amadas por Jesus.
Lembro-me de
ter ouvido sobre a responsabilidade de um médico cirurgião, que este poderia
estar em uma festa de aniversário de sua filha, mas ao receber uma ligação do
hospital para uma cirurgia de emergência, teria de sair correndo para atender
aquela pessoa que conta com sua instrumentalidade para salvá-la. Essa cena não
nos parece estranha ou inaceitável, pois se trata de uma vida que pode ser
salva. O ministério não é como o trabalho de um cirurgião, ele é mais sério,
pois se trata da salvação de vidas e as vezes por conta disso pode acontecer de
perdermos momentos que gostaríamos de participar.
Isso é uma
questão de consciência, ninguém deve ingressar no ministério sem essa
maturidade, pois isso seria catastrófico tanto para o ministro, quanto para
aqueles que deixarão de ser cuidados por conta das possíveis faltas deste
ministro e é importante que o casal esteja consciente disso, que a esposa
entenda o chamado do marido e seja seu suporte, pois já é difícil renunciar
determinadas coisas e a cobrança da esposa pode trazer um peso muito grande ao
ministro.
O
equilíbrio é também importantíssimo, pois ainda que naquele dia os apóstolos
não tivessem tempo para comer, uma hora eles teriam que comer, pois senão,
morreriam de fome. O ministro precisa entender que no cumprimento do ministério
vai haver momentos que ele estará com fome sem poder parar para comer, pois
estará alimentando a outros, mas ele não pode deixar de ter cuidado consigo
mesmo, pois a bíblia também está cheia de conselhos que precisam ser levados em
consideração.
“Tem
cuidado de ti mesmo e da doutrina. Persevera nestas coisas, porque, fazendo
isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como as que te ouvem.”
1Tm 4.16
“Amado, desejo que te vá bem em todas as
coisas, e que tenhas saúde, assim como bem vai a tua alma.”
1Jo v.2
É aqui que
precisamos encontrar o equilíbrio, não podemos deixar de cuidar de nós mesmos
com a justificativa de que há muitas pessoas para cuidar, não podemos
justificar a falta de cuidado com a nossa família por conta das muitas famílias
que estamos cuidando, também não podemos negar o fato de que as coisas precisam
estar equilibradas dentro de nós, pois não há sucesso real quando tudo está bem
no nosso ministério e por outro lado a nossa alma está doente e cada vez mais
doente.
Existem dois
extremos que precisam ser evitados, aquele que nos impede de abrir mão das
nossas coisas para cuidar dos outros, e o que nos impede de abrir mão dos outros
para cuidar das nossas coisas. É com sabedoria que serão postos alguns limites
para que não deixemos de cuidar de nós, da nossa família e nem dos outros.
Ao estudar
sobre a vida destes homens em quem o Senhor depositou autoridade, percebo que
não apenas neste capítulo da bíblia suas vidas foram cheias de desafios, mas em todo o tempo em que serviram até a
morte, pois morreram exatamente por conta do serviço do ministério.
É preciso entender o que está acontecendo quando somos ordenados, quando o azeite desce sobre nossa cabeça, neste ponto estamos nos comprometendo com algo grandioso, algo que nos custará um alto preço, quem sabe a nossa própria vida, mas sobre tudo isso, somos privilegiados por receber tamanha honra de sermos contados entre os ministros de Jesus.
Glorifico a
Deus pelo reconhecimento e confiança de meus líderes, lembro-me de uma frase
que ouvi do Pr Douglas Gonçalves, “Que por medo de consagrarmos um Judas
deixamos de consagrar Pedros, Thiagos e Joãos”. Peço a Deus que seja eu contado
entre estes três, fiéis até o fim.
Celebro a Deus pela honra do ministério pastoral.
29/11/2020