Será que com isso, estamos começando a
nos recomendar a nós mesmos novamente? Será que precisamos, como alguns, de
cartas de recomendação para vocês ou da parte de vocês?
Vocês mesmos são a nossa carta, escrita
em nosso coração, conhecida e lida por todos.
Vocês demonstram que são uma carta de
Cristo, resultado do nosso ministério, escrita
não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas em
tábuas de corações humanos.
2 Coríntios 3:1-3
Paulo neste trecho de sua mensagem aos
coríntios está falando que não precisa de que pessoas falem bem dele para que
seu ministério seja reconhecido, ele diz que existiam alguns que se utilizavam
desta estratégia para receberem reconhecimento, ele diz que não precisava de um
documento escrito para que seu ministério fosse validado, mas que eles mesmos
(os coríntios) eram esse documento, que a vida transformada e o testemunho
deles como igreja era como se o mundo os estivesse lendo, era uma evidência da
originalidade do seu ministério. Paulo ressalta que eles são CARTA DE CRISTO, resultado
do ministério dele, e como carta de Cristo eles deveriam trazer a mensagem do
próprio Jesus, ou seja, o Evangelho, as Boas Novas de salvação aos perdidos.
Existe
algo que não podemos negar diante de tudo o que temos visto em nosso mundo, que
nós vivemos em um tempo diferente dos tempos passados e que precisamos saber
lidar com as diferenças que são apresentadas a nós e ser mais uma vez essa
CARTA DE CRISTO ao mundo. Porém, precisamos considerar o fato de que não é a
primeira vez que isso acontece, o mundo sempre esteve em constante
transformação e em todas as eras os homens precisaram se adaptar ao formato que
a sociedade tomou, seja no que diz respeito à cultura local de cada povo, como
na sua religiosidade. Mas quando pensamos nessa adaptação religiosa ao novo
mundo precisamos considerar o fato de que Deus deixou bem claro para o seu povo
quando iam entrar na terra prometida:
“Não façam como os moradores dessa terra,
pois por isso foram vomitados, se fizerem como eles, vocês também serão
vomitados”(Lv 18).
E quando entraram:
“Se abandonarem o Senhor e servirem a deuses
estrangeiros, ele se voltará contra vocês e os castigará. Mesmo depois de ter
sido bondoso com vocês, ele os exterminará"(Js 24:20).
Fica claro que eles estariam entrando em uma
nova fase da vida e que precisavam se adaptar ao novo, porém Deus deixou bem
claro, sem perder os princípios por Ele estabelecidos.
Isso se
repetiu em todos os tempos em que a nação escolhida precisou se adaptar ao
novo, por exemplo, na Babilônia o povo mais uma vez estava diante de uma
influência grandiosa e negativa de um novo mundo, um mundo que nada tinha a ver
com os princípios que Deus estabelecera, no cativeiro da Babilônia o povo não
era escravo como no Egito, não eram forçados a trabalhar diante de condições
precárias, na Babilônia eles até se tornaram ricos, tiveram seus próprios
negócios, tanto que quando o povo voltou para a terra, muitos não retornaram,
pois já estavam com a vida estável. Mas a Babilônia que não escravizava impunha
sua cultura, de forma estratégica introduziu seu pensamento, sua cultura, sua
cosmovisão na mente e coração dos povos que dominavam incluindo o povo de Deus.
Daniel e
seus amigos, por exemplo, eles mudaram o endereço, mudaram as roupas, mudaram o
idioma, mudaram até mesmo o nome, e queriam mudar a dieta de Daniel e seus
amigos, mas quando chegou nessa parte não houve possibilidade de aceitar, havia
limites para as adaptações ao novo mundo, e esses limites não eram
estabelecidos por Daniel e seus amigos, eram estabelecidos pelas Escrituras,
não havia a possibilidade de reinterpreta-las, ou atualiza-las a fim de
que algumas coisas se tornassem aceitáveis para que houvesse uma possibilidade
para boa convivência entre aquela sociedade, aqui nós encontramos o limite,
isso serve para Daniel na Babilônia assim como serve para nós no Brasil no Séc.
XXI e precisamos entender que isso também será difícil para nós como foi para
eles.
Quando temos
esse tema “Cartas para um novo mundo”, precisamos decidir que tipo de
cartas queremos ser, pois neste momento Daniel deixou claro que não comeria a
comida, certamente na comida haviam alimentos considerados impuros e era também
apresentada aos ídolos da Babilônia, Daniel viu o limite e deixou bem claro que
não o ultrapassaria e isso era inegociável, mais pra frente seus amigos estavam
mais uma vez diante de uma situação onde todos eram obrigados a se curvarem
diante da estátua, mas isso também era inegociável, poderiam tirar a vida
deles, mas não passariam por cima dos princípios que Deus havia estabelecido,
mesmo que isso lhes custasse a vida.
Ao
acompanhar o Evangelho veremos também o nascimento de um novo mundo, um novo
mundo anunciado desde o princípio, mas que exigia a adaptação e a aceitação de
quem vivia em determinado período da história, Jesus ensinou sobre o vinho novo
em odre velho, que não se põe o vinho novo em odre velho (Mt 9.14-17),
ou seja, para que Israel pudesse receber o Reino de Deus, ou seja, viver o novo
de Deus, precisavam abrir mão da fé antiga, não porque e fé antiga era ruim,
mas porque eles perderam a essência das Escrituras.
Jesus
reinterpretou, ressignificou as Escrituras em seu tempo, pois no Sermão da
Montanha ensinava “Ouviste o que foi dito pelos antigos? Eu, porém, vos digo.”
(Mt 5.21-48). Jesus deixa bem claro que havia a necessidade
de uma adaptação, uma atualização na maneira de interpretar as Escrituras, não
porque agora a Antiga aliança havia perdido o valor, pelo contrário, porque a
religião havia se perdido do propósito revelado nas Escrituras, note que ele
não diz: “Ouviste o que diziam as Escrituras”, Ele diz: “Ouviste o que foi dito
pelos antigos”, Jesus reinterpretou a interpretação dos antigos interpretando
as Escrituras e revelando os mistérios que estavam ocultos aos olhos deles,
Paulo diz:
“O mistério que esteve oculto durante épocas
e gerações, mas que agora foi manifestado a seus santos.
A
eles quis Deus dar a conhecer entre os gentios a gloriosa riqueza deste
mistério, que é Cristo em vocês, a esperança da glória.”
Colossenses
1:26,27
Jesus
atualiza para que seu povo (agora a igreja) se adapte ao formato estabelecido
no propósito eterno do Pai, isso foi tão complicado que gerou perseguição por
parte dos líderes da religião judaica, Jesus foi morto por conta dessa
perseguição (claro que isso fazia parte do plano), posteriormente seus
discípulos e sua igreja também foram perseguidos e mortos das maneiras mais
brutais, até que mais uma vez chegou um novo
tempo, um novo mundo, onde o império romano que perseguia a igreja se
tornou oficialmente cristão. Isso se deu no tempo em que o imperador
Constantino disse ter tido uma experiência com Jesus e que havia se convertido
no ano 313 d.C, até este ponto os cristãos sofreram muito, porém nunca deixou
de crescer o número de pessoas que se rendiam ao Evangelho. Já no ano de 380
d.C o cristianismo se tornou a religião oficial do império romano pelo
imperador Teodósimo I e os cristãos que
sofreram com a perseguição passaram a perseguir todos aqueles que organizasse
ou participasse de um culto pagão, fosse público ou particular.
Neste novo
mundo foi necessário haver uma adaptação, seja cultural, assim como religiosa,
houve uma mescla entre a crença cristã baseada na doutrina dos apóstolos e a
crença romana baseada em sua mitologia, criavam-se imagens de personalidades da
igreja, mas que também representavam os deuses romanos, fora as muitas
concessões que trouxeram para o seio da igreja práticas pagãs completamente
detestáveis ao Senhor e que desrespeitavam seus princípios.
Neste ponto
da história vemos um comportamento da igreja muito parecido com o do povo de
Israel quando entrou na terra prometida e bem diferente do comportamento de
Daniel e seus amigos. Precisa ficar claro que seja no Antigo, seja no Novo
Testamento, Seja na Lei ou na Graça, os princípios por Deus estabelecidos são
inegociáveis. Existe sim a necessidade de adaptação com a realidade atual, mas
em todo caso a Graça se encarregará de se manifestar em sua multiforme maneira (1Pe
4.10) trazendo salvação aos homens.
“Porque a graça de Deus se manifestou
salvadora a todos os homens.
Ela
nos ensina a renunciar à impiedade e às paixões mundanas e a viver de maneira
sensata, justa e piedosa nesta era presente,
enquanto
aguardamos a bendita esperança: a gloriosa manifestação de nosso grande Deus e
Salvador, Jesus Cristo.”
Tito
2:11-13
A Graça é o
dom de Deus, o favor imerecido, o meio pelo qual somos salvos, mas não só isso,
a Graça também nos capacita a vivermos uma vida reta através do Espírito Santo,
ela é didática, nos ensina como viver de maneira agradável a Deus. O Evangelho
é a Boa Notícia de Jesus ao mundo, o vinho novo e podemos dividir essa boa
notícia em partes.
A primeira: Todos
nós somos pecadores, inimigos de Deus, indignos e destinados ao inferno por
causa disso.
A segunda: Jesus tomou essa culpa pra si nos
reconciliando com Deus, acabando com a inimizade que havia entre nós e Deus e
que nós não pagamos e nem tínhamos condições de pagar por isso. ISSO É A GRAÇA!
A terceira: Porque somos salvos, somos
capacitados e ensinados a viver como tal, porque fomos regenerados pelo
Espírito e nos tornamos uma nova criatura.
Porque
é importante entendermos isso? Porque não existe um evangelho verdadeiro se não
houver transformação de vida, ou seja, o cristianismo de Cristo não se adapta
ao contexto ou ao curso de uma sociedade perdida, ainda que essa tenha evoluído
em diversos aspectos, ao contrário disso, o Evangelho de Jesus transforma as
pessoas para o padrão do Reino, pois seu padrão é imutável, aquilo que Deus
considerava abominável no passado continua sendo considerado abominável. As
sociedades tomaram sua forma, mas a igreja tem sua forma própria, pois essa é a
forma do corpo de Cristo, e não somos nós quem decidimos como deve ser o corpo,
mas Ele mesmo faz isso em harmonia entre aquilo que está escrito com a obra do
Espírito que nos converte a imagem perfeita d’Ele pelo processo da santificação
que dura toda nossa vida.
Na primeira
carta de Paulo aos coríntios, ele os chamou a atenção para muitas coisas
erradas que estavam acontecendo na igreja, Paulo os repreendeu e disse que
haviam práticas que excluíam pessoas do Reino de Deus.
Vocês
não sabem que os perversos não herdarão o Reino de Deus? Não se deixem enganar:
nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem homossexuais passivos ou ativos,
nem ladrões, nem avarentos, nem
alcoólatras, nem caluniadores, nem trapaceiros herdarão o Reino de Deus.
Assim foram alguns de vocês. Mas vocês
foram lavados, foram santificados, foram justificados no nome do Senhor Jesus
Cristo e no Espírito de nosso Deus.
1 Coríntios 6:9-11
O que Paulo
diz aqui serve para os coríntios, serviu para Israel ao entrarem em Canaã e
serve para nós quase dois mil anos depois de essa carta ser escrita, pois se
trata de práticas comuns aqueles que não foram lavados e santificados em Jesus.
Nós não odiamos as pessoas por conta de tais práticas, o próprio Paulo disse
que algumas pessoas viviam nessas práticas anteriormente, mas que agora são
novas criaturas (ou deveriam ser) em Jesus. Deus ama o mundo e seu amor está
revelado em Jesus, mas não podemos negar o fato de que permanecendo na prática
do pecado nos mantemos inimigos de Deus e Deus ao seu tempo destruirá seus
inimigos.
Para Paulo,
falar da Graça em seu tempo era ser uma carta para um novo mundo, um mundo onde
judeu e gentio seriam filhos do mesmo Pai, era pregar a igualdade entre povos
distintos que viviam em culturas completamente distintas, porém, no que diz
respeito ao que diante de Deus era pecado, tanto para judeus como para gentios
era pecado, não havia concessões para que os gentios se adaptassem ao
cristianismo, isso precisa ficar claro para nós em nossos dias.
Existem duas
cartas na Bíblia que me chamam muita atenção, a Carta de Paulo à Filemom e a
carta de Davi à Joabe ((2Sm 11.14). Nestas cartas existem uma diferença
grandiosa no resultado final após serem lidas, na carta de Paulo à Filemom o
final resulta em perdão e vida para Onésimo, o servo que havia errado mas que agora arrependido estava voltando para casa, Paulo traz nas palavras escritas na carta
uma mensagem de perdão, reconciliação e graça, assim como nós devemos ser ao
mundo, aquele que nos lê precisa ser alcançados pela graça, precisam
reencontrar um lugar na casa do Pai novamente, mesmo que seus pecados os façam
merecedores de condenação e morte.
Na carta de
Davi o resultado final é morte. Davi entrega a Urias uma carta que o levaria a
sua própria destruição, quando o mundo lê em nós uma mensagem que não foi Jesus
quem escreveu, o final será destruição e morte.
Eu escolho ser uma carta para o novo mundo
como a de Paulo a Filemom, salvando quantos estiverem ao meu alcance, quem me
lê precisa encontrar Jesus e seu Evangelho de amor.
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