quinta-feira, 29 de outubro de 2020

503 anos da Reforma Protestante




"Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso.

Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas.

Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve".

 

Mateus 11:28-30

 

  Este é um texto muito conhecido das Escrituras e muito usado inclusive nos cultos ao ar livre, pois no que parece, ele traz uma mensagem direta as pessoas que estão sofrendo com o peso do pecado através de seus atos, em nossos dias seriam essas pessoas, as envolvidas com drogas, prostituição, crime, pessoas em situação de rua, doentes, ou qualquer outra situação semelhante. Mas hoje vamos analisar esse texto com uma lente mais forte, pois apesar de servir para todos esses casos, Jesus falava diretamente a um tipo de pessoa que estava sofrendo com o jugo e o peso do fardo da religiosidade.

  A primeira coisa que precisamos entender é que, a fala de Jesus pode ser para nós de difícil interpretação por conta da distância que temos dos elementos usados por Ele, como fardo e jugo por exemplo, talvez para as pessoas criadas no campo seja fácil o entendimento, o jugo é até hoje um instrumento usado para por sobre animais que puxavam algum tipo de carga, seja uma carroça, um arado, dois animais eram postos no jugo e juntos, lado a lado puxavam a carga, já o fardo, eram os sacos com os cereais ou outras coisas diversas.

  Saber disso já nos facilita um pouco saber o que Jesus estava dizendo, porém há mais profundidade no significado das suas palavras aqui neste texto, pois na cultura judaica, mais propriamente na religião, um homem chegava a uma posição de rabino após uma série de testes, mas por fim este homem precisava de três outros rabinos que fossem reconhecidos pela comunidade como homens de Deus sérios e reconhecessem que havia vocação e preparo naquele homem para se tornar um Mestre da Lei. Ao se tornar um rabino, aquele homem tinha então autoridade para interpretar as Escrituras e assim como em nossos dias, existiam muitas interpretações dos textos que nem sempre eram iguais de rabinos para rabinos.

  Os rabinos tinham seus discípulos e estes aprendiam de acordo com a interpretação que cada rabino tinha das Escrituras, eles usavam uma espécie de cartilha contendo estes ensinamentos e esses “livretos” seriam chamados de “jugo do rabino”, ou seja, os ensinamentos essenciais para que um homem vivesse em comunhão com Deus.

  Jesus sempre deixou bem claro que os ensinamentos dos escribas e fariseus estavam exigindo de forma excessiva a moralidade das pessoas, que inclusive, eles de forma hipócrita estavam requerendo algo dos discípulos que eles mesmos não faziam ou não tinham capacidade de fazer.

  “Eles atam fardos pesados e os colocam sobre os ombros dos homens, mas eles mesmos não estão dispostos a levantar um só dedo para movê-los.”

 

Mateus 23:4

  Esse público que ouviu as palavras de Jesus não se tratava de dependentes químicos, drogados, bandidos e prostitutas, o peso que este povo estava carregando que era insuportável a eles e que não trazia paz para suas almas era a própria religião judaica cheia de exigências para que o homem pudesse então ter paz com Deus e ao dizer “Vinde a mim”, Jesus estava dizendo, “Quero ser o Rabi de vocês, sejam meus discípulos”.

  Ao falarmos da reforma protestante, é como se mais uma vez o apóstolo Paulo necessitasse explicar a suficiência da obra de Cristo para salvação do pecador e que o homem por si só não tem capacidade de salvar-se através de suas tentativas de viver moralmente correto como bem está explicado na carta que escreveu aos romanos, uma breve leitura dos primeiros três capítulos dessa Epístola nos ajudaria a entender melhor.

  (Leia Romanos Cap. 1,2 e 3).

   Em diversos textos das Escrituras nós veremos que, mesmo quando os religiosos seguiam as determinações da religião quanto a vida piedosa no que diz respeito ao conhecimento das Escrituras, oração, jejum, boas obras, Jesus nos ensinou a nunca fazermos como eles faziam, pois faziam para se promoverem (Mt 6.1-18) e com isso se achavam melhores do que os outros (Lc 18.9-14).

  A igreja viveu um período de grande avivamento e crescimento, pois Jesus trouxe para seus discípulos uma nova cultura, a cultura do Reino, a tradição judaica havia interpretado as Escrituras e ensinavam essas tradições, porém o próprio Jesus reinterpretou as Escrituras trazendo a tona o Espírito da Lei, o que havia sido perdido, por isso lemos “Ouviste o que foi dito pelos antigos? Eu, porém, vos digo!” (Mt 5.21-48).

  E nesta sua reinterpretação não nos parece ter ficado mais fácil, ou mais leve e suave o fardo, pois por exemplo, os antigos diziam para amar os vossos amigos e odiar os vossos inimigos, Jesus diz que quem odeia é homicida e réu do fogo do inferno, logo seria mais suave continuar amando apenas o amigo, pois é pesado e porque não dizer impossível amar o inimigo.

  Claro que precisamos entender todo o contexto do que Jesus está falando no Sermão da Montanha, pois ali Ele fala para seus discípulos, pois o segredo que vai determinar a capacidade que temos de fazer ou não o que Ele ensina não está no fato de sermos meros seguidores d’Ele, mas o fato de através d’Ele termos nos tornado filhos de Deus. Ou seja, o homem natural não pode, mas o filho de Deus pode por conta da sua nova natureza.

  Mas eu lhes digo: Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem,

para que vocês venham a ser filhos de seu Pai que está nos céus. Porque ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos.

Se vocês amarem aqueles que os amam, que recompensa receberão? Até os publicanos fazem isso!

E se vocês saudarem apenas os seus irmãos, o que estarão fazendo de mais? Até os pagãos fazem isso!

Portanto, sejam perfeitos como perfeito é o Pai celestial de vocês".

 

Mateus 5:44-48

 

  Aqui Jesus deixa claro que a forma como lidamos com essas questões revelará que não somos comuns, deixamos de ser homens naturais quando nos tornamos filhos de Deus, ser perfeito não é uma opção para o filho de Deus, ser perfeito é uma característica que nos assemelha ao Pai, claro que, estamos em um processo de aperfeiçoamento (santificação) que dura a vida toda, mas caminhamos dia a dia revelando os traços de um filho de Deus. Fazer o natural, segundo Jesus, até os pagãos fazem.

  Na história da igreja houveram alguns eventos que mudaram toda a configuração da igreja que observamos desde o Colégio Apostólico, estes discípulos eram os mais próximos de Jesus e receberam d’Ele mesmo os ensinamentos que depois deveriam passar para o povo, Jesus morreu e ressuscitou e deixou essa responsabilidade sobre os doze, e sobre outros que tinham junto com os doze essa responsabilidade (Ex: Os setenta). No primeiro século a igreja foi muito perseguida pelo império romano, muitos cristãos foram brutalmente assassinados de diversas formas, Nero acaba tomando um destaque no meio dessas perseguições após o incêndio de Roma em 64 d.C, onde culpou os cristãos do incêndio que ele mesmo provocou. Mas em 313 d.C, um imperador chamado Constantino diz ter se convertido ao Deus cristão após uma experiência pessoal.

  O imperador Constantino (313 d.C) contribuiu a partir disso para que os cristãos não fossem mais perseguidos como antes e no ano de 380 d.C o imperador Teodósimo 1º tornou o cristianismo a religião oficial do império Romano.

  Mas já no ano de 325 no primeiro conselho de Nicéia foi iniciado o CESAROPAPISMO, onde o líder maior da religião cristã seria o próprio imperador, este seria considerado sucessor de Pedro, segundo a religião Católica Apostólica Romana, o primeiro Papa.

320 d.C – Velas.

365 d.C – Adoração aos anjos, oração aos mortos e confecção de imagens.

392 d.C – Foi colocada em vigor a Lei que proibia os cultos pagãos, fossem eles públicos ou reservados. (Os cristãos que antes eram perseguidos, agora são os perseguidores).

593 d.C—Gregório I incluía o Purgatório na teologia cristã.

600 d.C – O latim se torna a língua oficial da religião para as celebrações.

600 d.C – Orações a Maria.

786 d. C – Culto à cruz, imagens e relíquias sagradas.

850 d.C – Água benta. Tudo era santificado onde aspergisse a água.

995 d.C – Canonização dos santos.

1184 d.C – Conselho de Verona – INQUISIÇÃO.

1215 d.C – Transubstanciação. Ensinava que a hóstia e o vinho se transformavam literalmente no corpo e no sangue de Jesus.

1215 d.C – Concílio de Latrão. CONFIÇÃO DE PECADOS. Ao menos uma vez ao ano o católico era obrigado a se confessar com o sacerdote para ter seus pecados perdoados.

1439 d.C – O purgatório é colocado como uma doutrina fundamental da religião cristã. Concílio de Florença.

1508 d.C – Os documentos assinados pelos Papas tinham peso e poder da religião. Ou seja, o Papa tinha na assinatura de alguns documentos o poder de salvar as pessoas.

Foi a partir disso que passaram a ser vendidos documentos assinados pelo papa que serviam como que de passagem para o céu.

1509 d.C – Papa Leão X

·         Iniciou a campanha de arrecadação para a construção da BASÍLICA DE SÃO PEDRO.

·         Indulgência papal.

·         Salvação através de um documento assinado pelo Papa.

  Chegamos então no limite das heresias que adentraram a igreja que Jesus havia estabelecido para salvação dos perdidos, um tempo em que o governo era dito Teocrático, ou seja, Deus que governa, mas onde os homens se aproveitaram do poder que tinham nas mãos e que usavam o nome de Deus para alcançar seus próprios objetivos.

  Dentre tantos nomes que contribuíram para a Reforma protestante como João Calvino, Ulrich Zwingli, Jan hus, John Wyclif e outros, o nome que ganhou destaque foi o de Lutero, monge da Igreja Agostiniana que encontrou nas Escrituras a verdade que foi ensinada por Jesus e pelos apóstolos, mas que ao longo da história foi se deformando por conta das intervenções das lideranças que entenderam ter autoridade de Deus para introduzir dogmas de acordo com suas próprias visões. Apesar de a cobrança das indulgências ser o ápice para a Reforma Protestante, vimos que muitas questões precisavam ser reavaliadas e ressignificadas, entenda que, não eram as Escrituras que precisavam ser atualizadas como alguns ousam até dizer em nossos dias, mas os dogmas que foram incluídos na religião que comprometeram a essência da doutrina anteriormente implantada nos discípulos pelo próprio Jesus.

31/outubro/ 1517 é comemorado o Dia da Reforma Protestante.

  Este foi o dia que Martinho Lutero afixou nas portas da Paróquia de Wittemberg, na Alemanha as 95 teses que refutavam os dogmas que distorciam as doutrinas essenciais da fé cristã.

  A base da Reforma é:

Sola Gratia: Somente a Graça.

Sola Fide: Somente a Fé.

Solus Cristus: Somente Cristo.

Sola Scriptura: Somente as Escrituras.

Soli del Glória: Somente a Deus Glória.

 

  Iniciamos este texto falando do peso da religião judaica sobre o povo no tempo em que Jesus exercia seu ministério terreno, que a exigência dos líderes religiosos faziam em seus ensinamentos para o povo não era suficiente para salvá-los, mas Cristo ofereceu verdadeiro descanso para as almas cansadas, ou seja, nem a religião e nem muito menos nossas obras podem nos salvar, nosso dinheiro, nossa moralidade religiosa não pode nos salvar. Isso precisava e precisa ficar bem entendido, pois no tempo de Lutero, onde grande parte da população era pobre, vivendo num tipo de governo absolutista, a grande parte da população vivia sob um terror psicológico da igreja, pois se para salvar-se era necessário pagar determinado documento, como fariam já que não tinham dinheiro? Como tirar as almas dos entes queridos do purgatório, se não tinham dinheiro para pagar uma missa de sétimo dia? A sociedade pobre vivia sob o terror de estarem destinados ao inferno. Mais uma vez essas palavras de Jesus precisavam ser ditas.

  A reforma é a ressignificação do que já está dito, do que as Escrituras dizem, da obra suficiente de Cristo para salvação, sempre nesta data repetimos uma pergunta, se não seria agora que fazemos 503 anos que as 95 teses foram afixadas, se não seria necessária outra Reforma?

  Talvez em alguns casos e para algumas pessoas em específico sim, mas não podemos comparar nosso tempo com as trevas que pairavam sobre este período da igreja medieval, há muito conhecimento das Escrituras sendo passados por homens de Deus comprometidos com as “Solas” da Reforma e existem muitos buscando andar e viver na verdade. A Reforma contribuiu para que deixássemos de depender da religião para sermos salvos, para deixarmos a ideia de que podemos ser salvos a partir de nossas obras, ela nos levou a confiar inteiramente em Jesus.

    “Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus;

não por obras, para que ninguém se glorie.

Porque somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos boas obras, as quais Deus preparou de antemão para que nós as praticássemos.”

 

Efésios 2:8-10

  O que nos diferencia da igreja não reformada é a ordem das coisas, quando fazemos parte de uma religião moralista, praticamos boas obras para sermos salvos, porém a igreja que Cristo estabeleceu foi salva pela Graça, ou seja, a Salvação é um dom, um presente e essa salvação que recebemos em Cristo nos fez nova criatura para praticarmos boas obras, ou seja, a graça que nos salvou também nos capacita a viver essa nova cultura, a cultura do Reino de Deus.

  Celebramos ao Senhor por todos os homens de Deus que pagaram um alto preço para que hoje pudéssemos fazer parte dessa igreja, ainda que com algumas falhas, mas bem mais parecida com a igreja apostólica. Homens que se empenharam em traduzir e possibilitar nosso acesso ao conhecimento bíblico, assim como aqueles que foram assassinados brutalmente por se entregarem a causa de compartilhar as palavras de Jesus que chamava para si os pecadores, desejoso de trazer paz para suas almas cansadas.

  503 anos da Reforma Protestante.

3 comentários:

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