terça-feira, 16 de junho de 2020

Mais do que ser ouvido, ser justificado.



Lucas 18:9 A alguns que confiavam em sua própria justiça e desprezavam os outros, Jesus contou esta parábola:
10 "Dois homens subiram ao templo para orar; um era fariseu e o outro, publicano.
11 O fariseu, em pé, orava no íntimo: ‘Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens: ladrões, corruptos, adúlteros; nem mesmo como este publicano.
12 Jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho’.
13 "Mas o publicano ficou à distância. Ele nem ousava olhar para o céu, mas batendo no peito, dizia: ‘Deus, tem misericórdia de mim, que sou pecador’.
14 "Eu lhes digo que este homem, e não o outro, foi para casa justificado diante de Deus. Pois quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado".
  Neste texto temos uma parábola de Jesus com dois personagens que foram ao templo para orar, veremos que o fariseu apesar de algumas práticas religiosas que eram cumpridas fielmente por ele, não estava surtindo nenhum efeito diante de Deus, por outro lado o publicano, considerado uma das piores classes de pecadores na época, este foi justificado diante de Deus.
  Uma coisa importante a ser entendida desde o início é que, este texto não é uma apologia ao pecado, não significa que podemos ser ladrões, corruptos, adúlteros, ou que não devemos jejuar ou dar o dízimo. Outra coisa que precisa ser observada é que, o texto não vai tratar de quem tem a oração ouvida simplesmente, mas enfatiza a justificação pela graça mediante ao arrependimento do coração daquele que aceitou o chamado do Espírito para a aproximação e reconciliação. Simplificando, não é um pretexto para continuarmos pecando, entendendo que Deus não se importa com o pecado, seria um grande equívoco e um risco para nós, seria desconsiderar os danos causados por ele desde a queda é até mesmo na morte de Cristo no Calvário.
  O publicano é um personagem nessa história que tem sua vida manchada pela traição ao seu povo, pois trabalhava para os romanos e na maioria dos casos ainda cobrava além do valor dos impostos enriquecendo ilicitamente às custas do seu próprio povo, a roupa de um publicano, o trabalho, as pessoas com quem andava revelava quem ele era e aos olhos da religião, um dos piores pecadores.
  Por outro lado temos um fariseu, suas roupas, seu ofício, as pessoas com quem andava, suas práticas religiosas revelava também quem ele era aos olhos da religião, diferente do publicano, este era respeitado, honrado e bem, visto na comunidade.
  Ao ler este texto penso sobre nossa maior carência, que também será nossa maior busca, perceba que ambos foram ao templo para orar, esta posição é uma das imagens mais fortes e claras do nosso relacionamento e devoção com Deus, quando nos prostramos e oramos ao Deus todo poderoso.
  A intenção de quem ora deve ser a de colocar Deus em um lugar alto e de destaque em seu coração, oração é acima de tudo adoração, mas ao observar a forma como o fariseu orava vemos como podemos cometer um erro grosseiro de contemplarmos e identificarmos o pecado apenas nos ladrões, corruptos, imorais, ou até mesmo na feiura da miséria de um pobre sujeito nas ruas da cidade, neste fariseu apresentado a nós pelo nosso Senhor tinha o pecado escondido em seu coração, um pecado que o condenaria independente do quanto viesse a ser devoto em sua religião em todas as suas práticas.
  O erro que ele cometeu e que nós também podemos cometer é, nos colocar no centro da oração, mesmo assim ele era prevenido, pois esse tipo de oração não se faz para que todos ouçam, “ele fazia no íntimo”. Mas convenhamos, essa posição de quem ora é talvez o momento que talvez pensemos estar livres do pecado, mas fica-nos claro que em todo momento e de todas as formas continuaremos lutando contra o pecado que como um intruso tenta de todas as formas entrar como penetra até nos momentos que nos ajoelhamos diante de Deus.

  Jesus já havia ensinado no Sermão da Montanha que “se nós queremos entrar o Reino dos Céus, nossa justiça deveria exceder a dos escribas e fariseus (Mt 5.20)”, falou de muitos erros que cometiam e que nós deveríamos tomar todo o cuidado para não reproduzi-los em nossa vida espiritual, pois fazendo assim não alcançaríamos nenhuma recompensa da parte de Deus.

  Jesus falou sobre o jejum, esmolas e oração, em todos os casos exortou sobre o fato de fazermos isso para sermos vistos pelos homens, isso fala de práticas onde Deus deve estar no centro, mas que os fariseus hipócritas faziam e se colocavam no centro das atenções.
  Na parábola de Lc 18 Jesus nos traz a revelação de que não se trata de quem foi ouvido naquele dia ou não, não se trata de quem foi abençoado em sua casa, família, saúde, negócios, mas fala claramente de justificação e isso precisa ser observado com todo cuidado por nós, como diz no versículo 9, ele confiava na própria justiça, como se pelas suas práticas se tornassem aceitável diante de Deus e melhor que os demais homens. Falar sobre isso na igreja é demasiadamente desafiador, pois nos parece que estaremos abrindo as portas para que todos façam o que querem, sem ter peso algum na consciência, visto que alguém que faz tudo o que o fariseu fazia é considerado nada diante de Deus, enquanto alguém chega cheio de pecados e é justificado.
  As cartas de Paulo nos servem para explicar o evangelho e ao falar aos romanos ele deixa isso claro. Vamos por parte, primeiro ele fala que não há um justo sequer, isso são palavras de um fariseu ortodoxo e super zeloso na religião judaica, que agora convertido entende que apesar de toda a sua devoção na religião concluiu que, não há justo, não há quem entenda, não há quem busque a Deus, que todos se desviaram e tornaram-se juntamente inúteis, não há quem faça o bem (Rm 3.9-18).
  Podemos pensar então com isso que, ser um religioso piedoso não vale nada?
  Pode ser que sim, pode ser que não!
  Paulo continua dizendo aos romanos que “onde abundou o pecado, superabundou a graça (Rm 5.20)”, em outras palavras, quanto mais pecado, mais graça, porém é preciso muito cuidado aqui e Paulo teve esse cuidado e continua no capítulo 6 fazendo uma pergunta para si mesmo e respondendo “Que diremos então? Continuaremos pecando para que a graça aumente? De maneira nenhuma! (Rm 6.1,2a)”, precisamos entender que ter graça superabundante sobre pecado abundante significa que o pecado nunca será mais forte ou superior a graça salvadora de Cristo. Outra coisa que acontece quando recebemos essa graça que é mais forte ou superior ao pecado, morremos para o pecado e Paulo faz mais uma pergunta “Nós, os que morremos para o pecado, como podemos continuar vivendo nele? (Rm 6.2b)”.
  Aqui entendemos que a religiosidade por si só não pode nos salvar, não nos aproxima de Deus e ainda pode destruir nossas relações humanas, no caso do fariseu, este se achava superior ao outro por suas práticas, já aquele que é salvo pela graça reconhece que é Cristo que faz nele todas as coisas e isso não lhe permite se achar melhor do que ninguém. Aqui resolvemos também muitos problemas sociais, preconceitos e racismo caem por terra pela transformação do homem caído para o homem restaurado.
  Devemos considerar o fato de que para nós na maioria dos casos, “pecados que estão no coração, não são considerados tão pecados assim”, esse era o problema da religião judaica, o que Jesus confrontou fortemente, por exemplo, os antigos disseram não adulterarás (pois a condenação para quem fosse pego no ato era a morte por apedrejamento), Jesus disse que: Qualquer que olhar para uma mulher para desejá-la, já havia cometido adultério em seu coração (Mt.5.27).
  O pecado destacado aqui é a idolatria, adorar outra coisa ou pessoa que não seja Deus, no caso do fariseu ele se colocou no centro da oração, então se trata de adoração a si mesmo.
  A maior carência do ser humano é Deus, o pecado tem iludido aos homens os fazendo acreditar que podem preencher seus corações com a sensação de serem melhores do que os outros ou dignos de admiração pelos seus feitos. A bíblia nos ensina a fazer tudo para a glória de Deus (1Co 10.31), pois se fizermos diferente, podemos até fazer tudo perfeitamente e ainda assim tudo isso ser considerado inútil.
  Se a atitude do fariseu não foi aceita diante de Deus nessa história, então é para o publicano que devemos olhar, pois o resultado final que estamos buscando é aquele que ele vivenciou, ele desceu justificado.
  Primeiro não são os pecados do publicano que estão em questão, então fica claro que pecado é pecado, o destaque aqui é para a atitude dele ao reconhecer que seus pecados o torna indigno até mesmo de se aproximar do templo e olhar para o céu. Nesta oração do publicano vemos um indivíduo que reconhece os seus pecados e entende que Deus é Santo e pode parecer estranho, pois a vida do fariseu é bem diferente da vida do publicano, mas ambos deveriam se achegar diante do Senhor com essa mesma atitude, o problema de confiarmos na nossa própria justiça é exatamente este, pensamos ser perfeitos, pois nosso padrão de comparação do que é santo e profano não é mais Deus, mas o outro, e geralmente escolhemos aqueles que sabemos que cometem mais erros e que esses erros são mais evidentes do que os nossos.
  Os dois subiram ao templo para orar e a intenção de ambos era boa, os personagens são bem diferentes, um julgamento precipitado nos faria olhar para ambos e aceitar com facilidade o fariseu e questionar o motivo que levaria um homem como aquele publicano ao templo.
  Não foi a toa que Jesus nos deixou este ensinamento, não caiamos nesse mesmo erro, de nos acharmos melhores do que os outros, nossa atitude pode parecer a melhor, nossas intenções podem ser até aceitáveis diante dos homens, mas nunca devemos desconsiderar o fato de que Deus está pronto a considerar a atitude do nosso coração.
#PenseNisso

Um comentário:

  1. Quem sabe se na hora de nós compararmos ao invés de colocarmos o próximo como o segundo sujeito nessa comparação. Colocarmos Cristo! Assim nunca nos sentiríamos dignos a nada!

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