Lucas
18:9 A alguns que confiavam em sua própria justiça e desprezavam os outros,
Jesus contou esta parábola:
10
"Dois homens subiram ao templo para orar; um era fariseu e o outro,
publicano.
11
O fariseu, em pé, orava no íntimo: ‘Deus, eu te agradeço porque não sou como os
outros homens: ladrões, corruptos, adúlteros; nem mesmo como este publicano.
12
Jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho’.
13
"Mas o publicano ficou à distância. Ele nem ousava olhar para o céu, mas
batendo no peito, dizia: ‘Deus, tem misericórdia de mim, que sou pecador’.
14
"Eu lhes digo que este homem, e não o outro, foi para casa justificado
diante de Deus. Pois quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será
exaltado".
Neste texto
temos uma parábola de Jesus com dois personagens que foram ao templo para orar,
veremos que o fariseu apesar de algumas práticas religiosas que eram cumpridas
fielmente por ele, não estava surtindo nenhum efeito diante de Deus, por outro
lado o publicano, considerado uma das piores classes de pecadores na época,
este foi justificado diante de Deus.
Uma coisa
importante a ser entendida desde o início é que, este texto não é uma apologia
ao pecado, não significa que podemos ser ladrões, corruptos, adúlteros, ou que
não devemos jejuar ou dar o dízimo. Outra coisa que precisa ser observada é
que, o texto não vai tratar de quem tem a oração ouvida simplesmente, mas
enfatiza a justificação pela graça mediante ao arrependimento do coração
daquele que aceitou o chamado do Espírito para a aproximação e reconciliação.
Simplificando, não é um pretexto para continuarmos pecando, entendendo que Deus
não se importa com o pecado, seria um grande equívoco e um risco para nós,
seria desconsiderar os danos causados por ele desde a queda é até mesmo na
morte de Cristo no Calvário.
O publicano
é um personagem nessa história que tem sua vida manchada pela traição ao seu
povo, pois trabalhava para os romanos e na maioria dos casos ainda cobrava além
do valor dos impostos enriquecendo ilicitamente às custas do seu próprio povo,
a roupa de um publicano, o trabalho, as pessoas com quem andava revelava quem
ele era e aos olhos da religião, um dos piores pecadores.
Por outro
lado temos um fariseu, suas roupas, seu ofício, as pessoas com quem andava,
suas práticas religiosas revelava também quem ele era aos olhos da religião,
diferente do publicano, este era respeitado, honrado e bem, visto na
comunidade.
Ao ler este
texto penso sobre nossa maior carência, que também será nossa maior busca,
perceba que ambos foram ao templo para orar, esta posição é uma das imagens
mais fortes e claras do nosso relacionamento e devoção com Deus, quando nos
prostramos e oramos ao Deus todo poderoso.
A intenção
de quem ora deve ser a de colocar Deus em um lugar alto e de destaque em seu
coração, oração é acima de tudo adoração, mas ao observar a forma como o
fariseu orava vemos como podemos cometer um erro grosseiro de contemplarmos e
identificarmos o pecado apenas nos ladrões, corruptos, imorais, ou até mesmo na
feiura da miséria de um pobre sujeito nas ruas da cidade, neste fariseu
apresentado a nós pelo nosso Senhor tinha o pecado escondido em seu coração, um
pecado que o condenaria independente do quanto viesse a ser devoto em sua religião
em todas as suas práticas.
O erro que
ele cometeu e que nós também podemos cometer é, nos colocar no centro da
oração, mesmo assim ele era prevenido, pois esse tipo de oração não se faz para
que todos ouçam, “ele fazia no íntimo”.
Mas convenhamos, essa posição de quem ora é talvez o momento que talvez
pensemos estar livres do pecado, mas fica-nos claro que em todo momento e de
todas as formas continuaremos lutando contra o pecado que como um intruso tenta
de todas as formas entrar como penetra até nos momentos que nos ajoelhamos
diante de Deus.
Jesus já
havia ensinado no Sermão da Montanha que “se
nós queremos entrar o Reino dos Céus, nossa justiça deveria exceder a dos
escribas e fariseus (Mt 5.20)”, falou de muitos erros que cometiam e que
nós deveríamos tomar todo o cuidado para não reproduzi-los em nossa vida
espiritual, pois fazendo assim não alcançaríamos nenhuma recompensa da parte de
Deus.
Jesus falou
sobre o jejum, esmolas e oração, em todos os casos exortou sobre o fato de
fazermos isso para sermos vistos pelos homens, isso fala de práticas onde Deus
deve estar no centro, mas que os fariseus hipócritas faziam e se colocavam no
centro das atenções.
Na parábola
de Lc 18 Jesus nos traz a revelação de que não se trata de quem foi ouvido
naquele dia ou não, não se trata de quem foi abençoado em sua casa, família,
saúde, negócios, mas fala claramente de justificação e isso precisa ser
observado com todo cuidado por nós, como diz no versículo 9, ele confiava na
própria justiça, como se pelas suas práticas se tornassem aceitável diante de
Deus e melhor que os demais homens. Falar sobre isso na igreja é demasiadamente
desafiador, pois nos parece que estaremos abrindo as portas para que todos
façam o que querem, sem ter peso algum na consciência, visto que alguém que faz
tudo o que o fariseu fazia é considerado nada diante de Deus, enquanto alguém
chega cheio de pecados e é justificado.
As cartas de
Paulo nos servem para explicar o evangelho e ao falar aos romanos ele deixa
isso claro. Vamos por parte, primeiro ele fala que não há um justo sequer, isso
são palavras de um fariseu ortodoxo e super zeloso na religião judaica, que
agora convertido entende que apesar de toda a sua devoção na religião concluiu
que, não há justo, não há quem entenda,
não há quem busque a Deus, que todos se desviaram e tornaram-se juntamente
inúteis, não há quem faça o bem (Rm 3.9-18).
Podemos
pensar então com isso que, ser um religioso piedoso não vale nada?
Pode ser que
sim, pode ser que não!
Paulo
continua dizendo aos romanos que “onde
abundou o pecado, superabundou a graça (Rm 5.20)”, em outras palavras,
quanto mais pecado, mais graça, porém é preciso muito cuidado aqui e Paulo teve
esse cuidado e continua no capítulo 6 fazendo uma pergunta para si mesmo e
respondendo “Que diremos então?
Continuaremos pecando para que a graça aumente? De maneira nenhuma! (Rm
6.1,2a)”, precisamos entender que ter graça superabundante sobre pecado
abundante significa que o pecado nunca será mais forte ou superior a graça
salvadora de Cristo. Outra coisa que acontece quando recebemos essa graça que é
mais forte ou superior ao pecado, morremos para o pecado e Paulo faz mais uma
pergunta “Nós, os que morremos para o
pecado, como podemos continuar vivendo nele? (Rm 6.2b)”.
Aqui
entendemos que a religiosidade por si só não pode nos salvar, não nos aproxima
de Deus e ainda pode destruir nossas relações humanas, no caso do fariseu, este
se achava superior ao outro por suas práticas, já aquele que é salvo pela graça
reconhece que é Cristo que faz nele todas as coisas e isso não lhe permite se
achar melhor do que ninguém. Aqui
resolvemos também muitos problemas sociais, preconceitos e racismo caem por
terra pela transformação do homem caído para o homem restaurado.
Devemos
considerar o fato de que para nós na maioria dos casos, “pecados que estão no
coração, não são considerados tão pecados assim”, esse era o problema da
religião judaica, o que Jesus confrontou fortemente, por exemplo, os antigos
disseram não adulterarás (pois a condenação para quem fosse pego no ato era a
morte por apedrejamento), Jesus disse que: Qualquer que olhar para uma mulher
para desejá-la, já havia cometido adultério em seu coração (Mt.5.27).
O pecado
destacado aqui é a idolatria, adorar outra coisa ou pessoa que não seja Deus,
no caso do fariseu ele se colocou no centro da oração, então se trata de
adoração a si mesmo.
A maior
carência do ser humano é Deus, o pecado tem iludido aos homens os fazendo
acreditar que podem preencher seus corações com a sensação de serem melhores do
que os outros ou dignos de admiração pelos seus feitos. A bíblia nos ensina a
fazer tudo para a glória de Deus (1Co 10.31), pois se fizermos diferente,
podemos até fazer tudo perfeitamente e ainda assim tudo isso ser considerado
inútil.
Se a atitude
do fariseu não foi aceita diante de Deus nessa história, então é para o
publicano que devemos olhar, pois o resultado final que estamos buscando é
aquele que ele vivenciou, ele desceu justificado.
Primeiro não
são os pecados do publicano que estão em questão, então fica claro que pecado é
pecado, o destaque aqui é para a atitude dele ao reconhecer que seus pecados o
torna indigno até mesmo de se aproximar do templo e olhar para o céu. Nesta
oração do publicano vemos um indivíduo que reconhece os seus pecados e entende
que Deus é Santo e pode parecer estranho, pois a vida do fariseu é bem
diferente da vida do publicano, mas ambos deveriam se achegar diante do Senhor
com essa mesma atitude, o problema de confiarmos na nossa própria justiça é
exatamente este, pensamos ser perfeitos, pois nosso padrão de comparação do que
é santo e profano não é mais Deus, mas o outro, e geralmente escolhemos aqueles
que sabemos que cometem mais erros e que esses erros são mais evidentes do que
os nossos.
Os dois
subiram ao templo para orar e a intenção de ambos era boa, os personagens são
bem diferentes, um julgamento precipitado nos faria olhar para ambos e aceitar
com facilidade o fariseu e questionar o motivo que levaria um homem como aquele
publicano ao templo.
Não foi a
toa que Jesus nos deixou este ensinamento, não caiamos nesse mesmo erro, de nos
acharmos melhores do que os outros, nossa atitude pode parecer a melhor, nossas
intenções podem ser até aceitáveis diante dos homens, mas nunca devemos
desconsiderar o fato de que Deus está pronto a considerar a atitude do nosso
coração.
#PenseNisso
Quem sabe se na hora de nós compararmos ao invés de colocarmos o próximo como o segundo sujeito nessa comparação. Colocarmos Cristo! Assim nunca nos sentiríamos dignos a nada!
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