quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Ai de mim se não pregar o evangelho! (1Co 9.16)

 

Ai de mim se não pregar o evangelho! (1Co 9.16)

  Pregar o evangelho não é apenas sobre a necessidade do perdido de ser alcançado (Rm 10.13-15), é também a minha necessidade de cumprir meu propósito.

  O ganho do ministério da pregação.

  Ao ler todo este capítulo da primeira carta de Paulo aos coríntios (1Co 9), temos uma orientação muito necessária para nossa geração, pois ela nos fará ter uma melhor noção do que é o direito, a honra, o dever e a necessidade do ministro. Necessitamos de uma meditação cuidadosa, até porque este assunto merece esse cuidado e atenção, pois não sendo bem entendido prejudicará a pregação do evangelho.

  É concordado por todos que o apóstolo Paulo ensina e orienta a igreja sobre o direito do ministro de ser mantido pela igreja, ele deixa claro que os ministros são pessoas como qualquer outra, comem, bebem, casam-se e inclui o que nós chamamos hoje tecnicamente de “Prebenda pastoral”, trata-se do sustento do ministro que se dedica integralmente ao serviço do templo e do altar.

  As questões que envolvem dinheiro tem se tornado o motivo de muitos escândalos no “mundo evangélico”, pois como a própria bíblia diz: “O amor ao dinheiro é a raiz de todos os males (1Tm 6.10), muitos tem feito da obra e do ministério do Senhor que é santo, um negócio lucrativo, um verdadeiro comércio, o próprio apóstolo Pedro disse que isso aconteceria, que homens gananciosos fariam da igreja negócio, em outras traduções, fariam comércio (1Pe 2.3). Infelizmente é o que temos visto em alguns lugares e mais uma vez as palavras de Paulo à igreja de Corinto precisam ser consideradas por nós.

  Primeiro Paulo defende o direito do ministro de receber o sustento da igreja, ele usa o exemplo do soldado que não luta as suas próprias custas, do vinhateiro que não deixa de comer do fruto que ele mesmo está plantando, do pastor que cuidando das ovelhas vai beber do leite produzido por elas, por fim, Paulo deixa claro que isso não é uma opinião sua, mas que este entendimento está amparado pela Lei, ele cita Dt 25.4 “Não amordace o boi enquanto estiver debulhando o cereal”, ele continua, “acaso Deus estaria preocupado com o boi?”. Paulo questiona se pelo fato de semear coisas espirituais na vida da igreja, seria demais colher coisas materiais, sim, Paulo está falando de receber da igreja pelo trabalho que é desempenhado ali e precisamos abrir nossa mente para entendermos que não há nada de errado nisso, até aqui tudo é simples e nos basta apenas ter bom senso para aceitarmos que, se temos alguém se dedicando à igreja e que por essas pessoas temos sido ricamente abençoados, é mais do que justo que estas também sejam amparadas e sustentadas pela igreja.

  É também muito importante considerarmos estas palavras que foram destacadas, a NVI traz o versículo 6 exatamente assim:Ou será que só eu ou Barnabé não temos o direito de receber sustento sem trabalhar?, na palavra direito encontramos o dever da igreja com o ministro, e na palavra sustento encontramos qual é esse direito, ou seja, o ministério não é uma visão de carreira para enriquecimento pessoal, o ministério deve trazer consigo o sustento do ministro, claro, com sua família.

  V. 12 – Paulo então cita algumas pessoas que estão sendo sustentadas pela igreja, ele questiona se o fato da igreja estar comprometida com algumas pessoas, não deveria estar mais comprometida com aqueles que são os principais responsáveis pela vida deles, Paulo fala como quem plantou a igreja de Corinto, ele diz que este é um direito dele. Até aqui podemos ter uma noção mais clara do direito do ministro que serve ao templo e ao altar de Deus, edificando assim a sua igreja, mas após falar do seu direito, o apóstolo Paulo se volta para o objetivo central para o qual a igreja foi edificada, não por ele, mas por Cristo, a pregação do Evangelho.

  Ainda no versículo 12 ele deixa claro que mesmo tendo seu direito, nunca usou desse direito, “suportando tudo para não colocar obstáculo algum ao evangelho de Cristo”, Ele continua nos versículos 13 e 14 falando sobre o direito de quem vive servindo no ministério, que seja mantido por ele, mas Paulo está defendendo o direito que tem mesmo quando abre mão dele ao trabalhar como fabricante de tendas (1Co 4.12 / At 18.3). Paulo conclui, “eu não estou usando nenhum desses direitos”.

  Talvez tenhamos uma observação importante e necessária para fazermos quando se trata dos direitos tão buscados e defendidos em nossos dias concernente ao assunto sobre o direito do ministro, seja ele um pregador ou cantor, a primeira coisa que devemos considerar é que, seu dever está acima do seu direito, de forma que, se o seu direito estiver colocando obstáculo ao dever, Paulo nos deixa o exemplo, abra mão do direito, trabalhe com suas próprias mãos e continue empenhado no dever de pregar o evangelho. O que precisa ser observado e louvado na atitude de Paulo, não é o fato de exigir seu direito, mas o fato de abrir mão dele.

  Paulo nos ensina que o ganho do ministro não consiste no lucro financeiro que está tendo com a igreja, até porque devemos considerar a palavra sustento, pois é esse o dever da igreja com o ministro, algo bem diferente do que temos visto em nossos dias e que tem sido questionado inclusive por quem não faz parte da igreja. Isso é ou não um obstáculo para o evangelho?

  Este entendimento é extremamente necessário em nossa geração, principalmente para aqueles que estão ingressando e vislumbram o ministério como algo que promoverá viagens, hotéis de luxo, mesas fartas e “ofertas generosas” nos seus bolsos. Um princípio que precisamos nos atentar e considerar é que, ministério, chamada é algo que vem de Deus e não do reconhecimento do público, recebemos no altar com a benção de nossos líderes espirituais e não pelos admiradores de outras igrejas e seguidores da internet, muitas pessoas estão ingressando no ministério e convictos de que estão sendo bem sucedidos por conta do retorno financeiro, das agendas, da notoriedade e da influência que levam a outros, mas ressalto que muitos (não todos) já deixaram suas congregações, suas famílias e estão por si nesta carreira de sucesso, não há raízes, não contribuem em suas congregações, não digo isso daqueles que têm o chamado e estão sob a benção e orientação de seus líderes, inclusive tomando todos os cuidados com a família que é seu primeiro ministério.

  A motivação

  O grande perigo está na motivação do coração, por isso o apóstolo Paulo chamou a atenção de Timóteo para não por a mão na cabeça de ninguém precipitadamente (1Tm 5.22) e que não levantasse ao ministério neófitos (1Tm 3.6), pois estes corriam o risco de cair na mesma condenação do diabo, ou seja, a vaidade poderia tomar conta de seus corações e sua motivação inicial que era boa poderia se transformar e se tornar sua própria destruição, pois agora seu alvo não seria vidas para o Reino, seria o lucro para si mesmo. 

  O ganho (vidas) que Paulo fala é mais importante do que o meu direito como ministro, claro que não podemos deixar de lado o direito, basta à igreja o bom censo, pois não é correto a igreja explorar o ministro e nem deixá-lo padecer necessidade,  precisamos tomar esse cuidado com a motivação do nosso coração, pois podemos não mais ser movidos pelo amor que Paulo fala pelas vidas, mas literalmente pelo retorno material que podemos obter. Entendendo isso, não irei fazer a obra onde sei que receberei a melhor oferta ou a melhor recepção, pois vou pelas vidas e porque isso se trata de uma obrigação, o suficiente me basta. 

  Honra e super-honra.

  Temos outro assunto ligado a este, pois o ministro deve ser honrado pela igreja, mas como deve ser essa honra?

  De acordo com Rm 13.7,8; temos que dar honra a quem tem honra, é também aqui que podemos nos perder, pois todo ministro de Jesus entenderá que sua maior honra está em servir a Cristo, porém temos visto se formando uma cultura que chamo de “super-honra”, ou seja, quando é perceptível excessos, excessos esses que podem ser considerados relativos, pois nesse caso aceita-se a relativização das visões, pois aquilo que para mim é excesso, talvez não seja para outro. Paulo sempre falou que a igreja de Corinto deveria honrá-lo, mas ao contrário disso, chegaram ao ponto de questionarem seu apostolado, ele então destaca a atitude deles sobre a forma como tratavam outros e a forma como o tratavam.

  Fui insensato, mas vocês me obrigaram a isso. Eu devia ser recomendado por vocês, pois em nada sou inferior aos "super-apóstolos", embora eu nada seja.

As marcas de um apóstolo — sinais, maravilhas e milagres — foram demonstradas entre vocês, com grande perseverança.

Em que vocês foram inferiores às outras igrejas, exceto no fato de eu nunca ter sido um peso para vocês? Perdoem-me esta ofensa!

Agora, estou pronto para visitá-los pela terceira vez e não lhes serei um peso, porque o que desejo não são os seus bens, mas vocês mesmos. Além disso, os filhos não devem ajuntar riquezas para os pais, mas os pais para os filhos.

Assim, de boa vontade, por amor de vocês, gastarei tudo o que tenho e também me desgastarei pessoalmente. Visto que os amo tanto, devo ser menos amado?

2 Coríntios 12:11-15

  Paulo fala sobre sua motivação, ele não deseja os bens da igreja, ele deseja a igreja, Paulo não deseja ser um peso para a igreja, mesmo trabalhando e servindo a ela e sustentando-se com seu ofício, diz estar disposto a gastar todos os seus recursos e até a sua própria vida por amor deles, mesmo sendo menos amado. Aqui não consigo encontrar honra dos homens ao maior dos apóstolos, mas talvez consideraremos que essa igreja não era o melhor exemplo de alguém que sabe honrar.

  Não há problema algum em honrar e em ser honrado, falo hoje como um ministro de Deus que trabalhou e trabalha para Deus servindo a igreja, trazemos com essa palavra a atenção para a necessidade de equilibrarmos as coisas, pois após fazermos tudo o que nos foi mandado, não devemos nos achar dignos ou merecedores de privilégios, como disse Jesus, devemos nos considerar servos inúteis, pois fizemos apenas o que fomos mandado fazer (Lc 17.7-10).

  Paulo fala que pregar o evangelho é uma necessidade dele e não um favor a Deus e aos perdidos. Todos nós somos sensíveis a situação daqueles que ainda não ouviram a pregação do evangelho, “pois como ouvirão se não há quem pregue?”, mas Paulo destaca o fato de que não é isso que o impulsiona, mas que ao pregar ele mesmo está sendo beneficiado, pois se pregar for algo que faço somente se eu quiser, ou de acordo com a minha vontade, automaticamente tomarei o caminho da recompensa, mas se faço por necessidade estou simplesmente cumprindo meu dever, ou seja, não terei mais expectativas em receber o que hoje conhecemos como “honra”.

  Pregar o evangelho não é favor, muitos serão gratos a nós por sermos instrumentos de Deus em suas vidas, mas não fomos instrumentos de Deus para recebermos a gratidão do povo, mas por causa da nossa necessidade de pregar, de cumprir nosso propósito e cumprí-lo deve nos bastar, pois de outra forma poderíamos nos frustrar quando essa honra do povo não nos viesse, talvez poderíamos nos tornar mal acostumados a ser ovacionados, a receber reconhecimento, quando toda honra e todo reconhecimento devem ser dado a Jesus.

  Paulo diz a igreja de corinto que padeceu muito mais do que alguns que se sentiam superiores, ele declara detalhadamente pelo que passou arriscando sua vida para que vidas fossem salvas (1Co 11.22-28), porém, mesmo que tenha feito e passado por tudo isso, reconhece que só há um meio pelo qual vidas possam ser salvas, pela palavra de Deus somada a ação do Espírito Santo.

   Eu mesmo, irmãos, quando estive entre vocês, não fui com discurso eloqüente nem com muita sabedoria para lhes proclamar o mistério de Deus.

Pois decidi nada saber entre vocês, a não ser Jesus Cristo, e este, crucificado.

E foi com fraqueza, temor e com muito tremor que estive entre vocês.

Minha mensagem e minha pregação não consistiram de palavras persuasivas de sabedoria, mas consistiram de demonstração do poder do Espírito,

para que a fé que vocês têm não se baseasse na sabedoria humana, mas no poder de Deus.

1 Coríntios 2:1-5

  Paulo sendo um poliglota, um doutor da Lei, formado aos pés de um dos maiores rabinos de sua época sabia que isso não significava nada se sua mensagem não fosse pura e simples para as pessoas, Paulo acabou “disputando” muitas vezes com os judeus sobre a Palavra, isto se fez necessário, pois os muitos judeus eram resistentes à revelação de Jesus, porém, mesmo quando muitos resistiam a mensagem, haviam alguns que abriam seu coração para receberem a revelação por meio do espírito Santo.

  Algumas pessoas me perguntam "O que você pensa sobre isso ou aquilo?", isso com relação às discussões teológicas que tomam espaço em muitos debates. Penso que não estamos nos dias de Paulo e que quando se trata de Deus e de sua palavra, não posso dizer o que penso ou acho, e sim dar qualquer opinião iniciando a frase com "a bíblia diz que" ou "segundo o texto de". Mas mesmo assim tenho muitas opiniões sobre tudo, pois sou uma mente pensante, mas não é isso que importa quando vou falar de Deus, pois sou um pregador do Evangelho de Jesus Cristo e estou comprometido e empenhado nisso, estou visando um único ganho e nessa missão não cabe a minha opinião, não há lugar para o que eu gosto ou o que eu não gosto, o que eu concordo ou discordo, a Bíblia é minha regra de fé e prática. Como diz C.S.Lewis em seu  livro Cristianismo puro e simples, "não estou pregando a minha religião pessoal, o que prego hoje já existe a muito tempo  antes de eu ter nascido". Eu não tenho que convencer ninguém com minha capacidade de persuadir, esse método não transforma vidas, ou seja, eu não falo o que o pecador prefere, eu falo o que ele precisa, as letras dos louvores não devem expressar o que será aceito e comprado, elas precisam glorificar a Deus.

  Ai de mim se não pregar o evangelho fala sobre a minha necessidade de pregar, e fala da necessidade de pregar o verdadeiro evangelho, pois posso pecar em não o pregar, ou posso pecar em pregá-lo erroneamente, da forma que me agrada ou no lugar que me traz vantagem, o evangelho não é sobre mim, é sobre Cristo.

  Espero que esta palavra tenha servido para seu crescimento e amadurecimento no ministério, que tenha aprendido sobre o direito, o dever, a honra e a necessidade do verdadeiro ministro do evangelho.

Um comentário:

  1. Amém! Mesmo antes de ler essa explicação tão bem revelada do direito dos ministros da palavra. Eu sempre tive o entendimento da importância do salário a quem é do direito. Hoje eu saberei citar esse texto para me ajudar a explicar meu entendimento.

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