"Venham a mim, todos os que estão
cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso.
Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de
mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as
suas almas.
Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é
leve".
Mateus 11:28-30
Este é um
texto muito conhecido das Escrituras e muito usado inclusive nos cultos ao ar
livre, pois no que parece, ele traz uma mensagem direta as pessoas que estão
sofrendo com o peso do pecado através de seus atos, em nossos dias seriam essas
pessoas, as envolvidas com drogas, prostituição, crime, pessoas em situação de
rua, doentes, ou qualquer outra situação semelhante. Mas hoje vamos analisar
esse texto com uma lente mais forte, pois apesar de servir para todos esses
casos, Jesus falava diretamente a um tipo de pessoa que estava sofrendo com o
jugo e o peso do fardo da religiosidade.
A primeira
coisa que precisamos entender é que, a fala de Jesus pode ser para nós de difícil
interpretação por conta da distância que temos dos elementos usados por Ele,
como fardo e jugo por exemplo, talvez para as pessoas criadas no campo seja fácil
o entendimento, o jugo é até hoje um instrumento usado para por sobre animais
que puxavam algum tipo de carga, seja uma carroça, um arado, dois animais eram
postos no jugo e juntos, lado a lado puxavam a carga, já o fardo, eram os sacos
com os cereais ou outras coisas diversas.
Saber disso já
nos facilita um pouco saber o que Jesus estava dizendo, porém há mais
profundidade no significado das suas palavras aqui neste texto, pois na cultura
judaica, mais propriamente na religião, um homem chegava a uma posição de
rabino após uma série de testes, mas por fim este homem precisava de três
outros rabinos que fossem reconhecidos pela comunidade como homens de Deus sérios
e reconhecessem que havia vocação e preparo naquele homem para se tornar um Mestre
da Lei. Ao se tornar um rabino, aquele homem tinha então autoridade para
interpretar as Escrituras e assim como em nossos dias, existiam muitas
interpretações dos textos que nem sempre eram iguais de rabinos para rabinos.
Os rabinos tinham
seus discípulos e estes aprendiam de acordo com a interpretação que cada rabino
tinha das Escrituras, eles usavam uma espécie de cartilha contendo estes
ensinamentos e esses “livretos” seriam chamados de “jugo do rabino”, ou seja,
os ensinamentos essenciais para que um homem vivesse em comunhão com Deus.
Jesus sempre
deixou bem claro que os ensinamentos dos escribas e fariseus estavam exigindo
de forma excessiva a moralidade das pessoas, que inclusive, eles de forma
hipócrita estavam requerendo algo dos discípulos que eles mesmos não faziam ou
não tinham capacidade de fazer.
“Eles
atam fardos pesados e os colocam sobre os ombros dos homens, mas eles mesmos
não estão dispostos a levantar um só dedo para movê-los.”
Mateus 23:4
Esse público
que ouviu as palavras de Jesus não se tratava de dependentes químicos, drogados,
bandidos e prostitutas, o peso que este povo estava carregando que era
insuportável a eles e que não trazia paz para suas almas era a própria religião
judaica cheia de exigências para que o homem pudesse então ter paz com Deus e
ao dizer “Vinde a mim”, Jesus estava dizendo, “Quero ser o Rabi de vocês, sejam
meus discípulos”.
Ao falarmos da
reforma protestante, é como se mais uma vez o apóstolo Paulo necessitasse
explicar a suficiência da obra de Cristo para salvação do pecador e que o homem
por si só não tem capacidade de salvar-se através de suas tentativas de viver
moralmente correto como bem está explicado na carta que escreveu aos romanos,
uma breve leitura dos primeiros três capítulos dessa Epístola nos ajudaria a
entender melhor.
(Leia
Romanos Cap. 1,2 e 3).
Em diversos textos das Escrituras nós veremos
que, mesmo quando os religiosos seguiam as determinações da religião quanto a
vida piedosa no que diz respeito ao conhecimento das Escrituras, oração, jejum,
boas obras, Jesus nos ensinou a nunca fazermos como eles faziam, pois faziam
para se promoverem (Mt 6.1-18) e com isso se achavam melhores do que os
outros (Lc 18.9-14).
A igreja viveu
um período de grande avivamento e crescimento, pois Jesus trouxe para seus
discípulos uma nova cultura, a cultura do Reino, a tradição judaica havia
interpretado as Escrituras e ensinavam essas tradições, porém o próprio Jesus
reinterpretou as Escrituras trazendo a tona o Espírito da Lei, o que havia sido
perdido, por isso lemos “Ouviste o que foi dito pelos antigos? Eu, porém,
vos digo!” (Mt 5.21-48).
E nesta sua reinterpretação
não nos parece ter ficado mais fácil, ou mais leve e suave o fardo, pois por exemplo,
os antigos diziam para amar os vossos amigos e odiar os vossos inimigos, Jesus
diz que quem odeia é homicida e réu do fogo do inferno, logo seria mais suave
continuar amando apenas o amigo, pois é pesado e porque não dizer impossível amar
o inimigo.
Claro que
precisamos entender todo o contexto do que Jesus está falando no Sermão da
Montanha, pois ali Ele fala para seus discípulos, pois o segredo que vai determinar
a capacidade que temos de fazer ou não o que Ele ensina não está no fato de
sermos meros seguidores d’Ele, mas o fato de através d’Ele termos nos tornado
filhos de Deus. Ou seja, o homem natural não pode, mas o filho de Deus pode por
conta da sua nova natureza.
Mas eu lhes digo: Amem os seus inimigos
e orem por aqueles que os perseguem,
para que vocês venham a ser filhos de seu
Pai que está nos céus. Porque ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e
derrama chuva sobre justos e injustos.
Se vocês amarem aqueles que os amam, que
recompensa receberão? Até os publicanos fazem isso!
E se vocês saudarem apenas os seus irmãos,
o que estarão fazendo de mais? Até os pagãos fazem isso!
Portanto, sejam perfeitos como perfeito é
o Pai celestial de vocês".
Mateus 5:44-48
Aqui Jesus
deixa claro que a forma como lidamos com essas questões revelará que não somos
comuns, deixamos de ser homens naturais quando nos tornamos filhos de Deus, ser
perfeito não é uma opção para o filho de Deus, ser perfeito é uma característica
que nos assemelha ao Pai, claro que, estamos em um processo de aperfeiçoamento
(santificação) que dura a vida toda, mas caminhamos dia a dia revelando os
traços de um filho de Deus. Fazer o natural, segundo Jesus, até os pagãos
fazem.
Na história da
igreja houveram alguns eventos que mudaram toda a configuração da igreja que
observamos desde o Colégio Apostólico, estes discípulos eram os mais
próximos de Jesus e receberam d’Ele mesmo os ensinamentos que depois deveriam
passar para o povo, Jesus morreu e ressuscitou e deixou essa responsabilidade
sobre os doze, e sobre outros que tinham junto com os doze essa responsabilidade
(Ex: Os setenta). No primeiro século a igreja foi muito perseguida pelo império
romano, muitos cristãos foram brutalmente assassinados de diversas formas, Nero
acaba tomando um destaque no meio dessas perseguições após o incêndio de Roma
em 64 d.C, onde culpou os cristãos do incêndio que ele mesmo provocou. Mas em 313
d.C, um imperador chamado Constantino diz ter se convertido ao Deus cristão
após uma experiência pessoal.
O imperador
Constantino (313 d.C) contribuiu a partir disso para que os cristãos não fossem
mais perseguidos como antes e no ano de 380 d.C o imperador Teodósimo 1º
tornou o cristianismo a religião oficial do império Romano.
Mas
já no ano de 325 no primeiro conselho de Nicéia foi iniciado o CESAROPAPISMO,
onde o líder maior da religião cristã seria o próprio imperador, este seria
considerado sucessor de Pedro, segundo a religião Católica Apostólica Romana, o
primeiro Papa.
320 d.C – Velas.
365 d.C – Adoração aos anjos, oração aos
mortos e confecção de imagens.
392 d.C – Foi colocada em vigor a Lei que
proibia os cultos pagãos, fossem eles públicos ou reservados. (Os cristãos
que antes eram perseguidos, agora são os perseguidores).
593 d.C—Gregório I incluía o Purgatório na
teologia cristã.
600 d.C – O latim se torna a língua
oficial da religião para as celebrações.
600 d.C – Orações a Maria.
786 d. C – Culto à cruz, imagens e
relíquias sagradas.
850 d.C – Água benta. Tudo era santificado
onde aspergisse a água.
995 d.C – Canonização dos santos.
1184 d.C – Conselho de Verona –
INQUISIÇÃO.
1215 d.C – Transubstanciação. Ensinava que
a hóstia e o vinho se transformavam literalmente no corpo e no sangue de Jesus.
1215 d.C – Concílio de Latrão. CONFIÇÃO DE
PECADOS. Ao menos uma vez ao ano o católico era obrigado a se confessar com o
sacerdote para ter seus pecados perdoados.
1439 d.C – O purgatório é colocado como
uma doutrina fundamental da religião cristã. Concílio de Florença.
1508 d.C – Os documentos assinados pelos Papas
tinham peso e poder da religião. Ou seja, o Papa tinha na assinatura de alguns
documentos o poder de salvar as pessoas.
Foi a partir disso que passaram a ser vendidos
documentos assinados pelo papa que serviam como que de passagem para o céu.
1509 d.C – Papa Leão X
·
Iniciou a campanha de arrecadação
para a construção da BASÍLICA DE SÃO PEDRO.
·
Indulgência papal.
·
Salvação através de um documento
assinado pelo Papa.
Chegamos
então no limite das heresias que adentraram a igreja que Jesus havia estabelecido
para salvação dos perdidos, um tempo em que o governo era dito Teocrático, ou
seja, Deus que governa, mas onde os homens se aproveitaram do poder que tinham nas
mãos e que usavam o nome de Deus para alcançar seus próprios objetivos.
Dentre tantos nomes que contribuíram para a
Reforma protestante como João Calvino, Ulrich Zwingli, Jan hus, John Wyclif e outros, o
nome que ganhou destaque foi o de Lutero, monge da Igreja Agostiniana que
encontrou nas Escrituras a verdade que foi ensinada por Jesus e pelos apóstolos,
mas que ao longo da história foi se deformando por conta das intervenções das
lideranças que entenderam ter autoridade de Deus para introduzir dogmas de
acordo com suas próprias visões. Apesar de a cobrança das indulgências ser o
ápice para a Reforma Protestante, vimos que muitas questões precisavam ser
reavaliadas e ressignificadas, entenda que, não eram as Escrituras que precisavam ser atualizadas como alguns ousam até dizer em nossos dias, mas os dogmas que
foram incluídos na religião que comprometeram a essência da doutrina anteriormente
implantada nos discípulos pelo próprio Jesus.
31/outubro/ 1517 é comemorado o Dia da Reforma
Protestante.
Este foi o dia
que Martinho Lutero afixou nas portas da Paróquia de Wittemberg, na Alemanha as
95 teses que refutavam os dogmas que distorciam as doutrinas essenciais da fé
cristã.
A base da
Reforma é:
Sola Gratia: Somente a Graça.
Sola Fide: Somente a Fé.
Solus Cristus: Somente Cristo.
Sola Scriptura: Somente as Escrituras.
Soli del Glória: Somente a Deus Glória.
Iniciamos
este texto falando do peso da religião judaica sobre o povo no tempo em que
Jesus exercia seu ministério terreno, que a exigência dos líderes religiosos
faziam em seus ensinamentos para o povo não era suficiente para salvá-los, mas
Cristo ofereceu verdadeiro descanso para as almas cansadas, ou seja, nem a
religião e nem muito menos nossas obras podem nos salvar, nosso dinheiro, nossa
moralidade religiosa não pode nos salvar. Isso precisava e precisa ficar bem
entendido, pois no tempo de Lutero, onde grande parte da população era pobre,
vivendo num tipo de governo absolutista, a grande parte da população vivia sob
um terror psicológico da igreja, pois se para salvar-se era necessário pagar
determinado documento, como fariam já que não tinham dinheiro? Como tirar
as almas dos entes queridos do purgatório, se não tinham dinheiro para pagar
uma missa de sétimo dia? A sociedade pobre vivia sob o terror de estarem
destinados ao inferno. Mais uma vez essas palavras de Jesus precisavam ser ditas.
A reforma é a
ressignificação do que já está dito, do que as Escrituras dizem, da obra suficiente
de Cristo para salvação, sempre nesta data repetimos uma pergunta, se não seria
agora que fazemos 503 anos que as 95 teses foram afixadas, se não seria necessária
outra Reforma?
Talvez em
alguns casos e para algumas pessoas em específico sim, mas não podemos comparar
nosso tempo com as trevas que pairavam sobre este período da igreja medieval,
há muito conhecimento das Escrituras sendo passados por homens de Deus
comprometidos com as “Solas” da Reforma e existem muitos buscando andar e viver
na verdade. A Reforma contribuiu para que deixássemos de depender da religião
para sermos salvos, para deixarmos a ideia de que podemos ser salvos a partir
de nossas obras, ela nos levou a confiar inteiramente em Jesus.
“Pois
vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de
Deus;
não por obras, para que ninguém se glorie.
Porque somos criação de Deus realizada em
Cristo Jesus para fazermos boas obras, as quais Deus preparou de antemão para
que nós as praticássemos.”
Efésios 2:8-10
O que nos
diferencia da igreja não reformada é a ordem das coisas, quando fazemos parte
de uma religião moralista, praticamos boas obras para sermos salvos, porém a
igreja que Cristo estabeleceu foi salva pela Graça, ou seja, a Salvação é um
dom, um presente e essa salvação que recebemos em Cristo nos fez nova criatura
para praticarmos boas obras, ou seja, a graça que nos salvou também nos
capacita a viver essa nova cultura, a cultura do Reino de Deus.
Celebramos ao
Senhor por todos os homens de Deus que pagaram um alto preço para que hoje pudéssemos
fazer parte dessa igreja, ainda que com algumas falhas, mas bem mais parecida com
a igreja apostólica. Homens que se empenharam em traduzir e possibilitar nosso
acesso ao conhecimento bíblico, assim como aqueles que foram assassinados
brutalmente por se entregarem a causa de compartilhar as palavras de Jesus que
chamava para si os pecadores, desejoso de trazer paz para suas almas cansadas.
503 anos da
Reforma Protestante.