Mateus 23:24b: Vocês coam um mosquito e engolem um camelo.
O Capítulo 23 do Evangelho que escreveu Mateus é um texto singular, levando em consideração a dureza e a clareza das palavras de Jesus referente aos escribas e fariseus que eram os mestres da religião para o povo.
Existe um peso de responsabilidade muito grande para quem assume a posição de mestre na igreja, por isso a Bíblia diz:
Tiago 3:1 Meus irmãos, não sejam muitos de vocês mestres, pois vocês sabem que nós, os que ensinamos, seremos julgados com maior rigor.
Esse rigor se dá pelo fato de sermos responsáveis pelos discípulos que se formarão a partir de nós. Os fariseus e os escribas eram conhecedores da Lei e das tradições judaicas, eram muito rigorosos em alguns pontos, outros nem tanto, alguns deles o próprio Jesus vai citando no decorrer do capítulo 23.
Jesus diz aos seus discípulos que deveriam seguir o ensinamento teórico deles, mas que não deveriam repetir suas atitudes. Aqui começamos a ver a diferença do cristianismo para a religião, seja ela qual for.
O filho de Deus se manifestou para fazer discípulos, mas seu ensino ia além de teoria, seu ensino era mais prático do que teórico, Jesus também disse que, "se a nossa justiça não exceder a dos escriba e fariseus, de maneira nenhuma entraremos no reino dos céus (Mt 5.20)".
Temos uma tendência carnal que nos leva para esse modo de viver, ser original na nossa fé não é resultado do nosso esforço humano, claro que existe a nossa parte nessa obra, porém é evidente que sem o Espírito e a natureza de Cristo em nós, não conseguiremos. Corremos com isso o risco de nos tornarmos religiosos como eram os escribas e fariseus, cheios de conhecimento e capazes de transmitir esse conhecimento, mas distantes da prática, Jesus disse que impõem peso impossível de carregar, quando nem com os dedos se esforçam para movê-lo.
Um mestre, seja ele de qualquer área, terá sempre uma sede em comum, ensinar. Falo com propriedade sobre a igreja evangélica brasileira, da carência de mestres, pois temos muitos pregadores, mas poucos mestres e essa palavra de Jesus acende um alerta para todos aqueles que estão se levantando com essa atribuição, pois, se não fizermos isso corretamente estaremos comprometendo a próxima geração que estará sendo formada a partir do nosso ensino.
A partir do versículo 5 vemos uma das características dos mestres da época de Jesus, "faziam tudo para serem vistos", talvez aqui já encontramos um grande problema que dificilmente conseguiremos equilibrar em nossa geração, pois o que Jesus está destacando como prejudicial, o mundo entende como algo comum, onde o "eu" é idolatrado o tempo todo, principalmente nas redes sociais que se tornou um meio de "marketing" da nossa auto imagem e do nosso trabalho. Jesus destaca a maneira como se vestiam, os lugares que se assentavam, saudações nas praças, os títulos que recebiam, o que poderíamos por uma outra ótica enxergar com normalidade, mas Jesus revela onde estava o erro, eram as intenções do coração.
Então, a partir do versículo 13 Jesus delibera os "ais" para os escribas e fariseus e veremos em quase todos os momentos esses "ais" acompanhados da palavra hipócritas, Jesus foi direto, claro e duro para com eles, pois não tratava-se de crianças, mas de mestres que formavam pessoas.
Mateus 23:13 "Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês fecham o Reino dos céus diante dos homens! Vocês mesmos não entram, nem deixam entrar aqueles que gostariam de fazê-lo.
No versículo 13 Jesus destaca que eles estavam fechando a porta do Reino do céus para os homens, a porta que eles mesmo decidiram não entrar.
Só em refletir sobre este versículo já conseguimos entender o porquê de Jesus ser tão duro em suas palavras, pois o pior pecador não é aquele que não conhece Deus e está no mundo de impiedade, estes estão cegos, o pior pecador é aquele que sendo cego, não conhece a Deus e se coloca nesta posição de mestre para ensinar, daí temos aquele ditado que diz "cego guiando cego, ambos caem no buraco"(Lc 6.39), aquele que dizendo ser mestre acaba desviando mais as pessoas do caminho do céu.
Mateus 23:15 "Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas, porque percorrem terra e mar para fazer um convertido e, quando conseguem, vocês o tornam duas vezes mais filho do inferno do que vocês.
O versículo 15 expressa a fome de um mestre por ensinar e fazer discípulos, o problema não era o esforço e dedicação desse mestre, pois nas palavras de Jesus eles eram incansáveis, assim como não seria sinônimo de que estou fazendo bem o meu papel de mestre hoje, se eu tão somente seguir o conselho que a palavra dá, que, "aquele que recebeu o dom de mestre, deve se dedicar ao ensino" (Rm 12.7), preciso entender o que é ser dedicado, pois um mestre na igreja não é como um professor de matemática, discipular pessoas para viverem um cristianismo autêntico vai além do transmitir uma matéria de uma revista ou de um livro, minha teoria precisa estar embasada na minha maneira de viver, em minhas atitudes.
Neste versículo 15 Jesus fala da formação de alguém pior, Jesus chama esse discípulo de filho do inferno. Sinto o peso dessa palavra, pois fala realmente de formar pessoas para serem infernais no meio da comunidade de fé, seja isso na religião judaica, ou seja agora na igreja se repetirmos a forma dos mestres que Jesus censurou.
Mateus 23:16 "Ai de vocês, guias cegos!, pois dizem: ‘Se alguém jurar pelo santuário, isto nada significa; mas se alguém jurar pelo ouro do santuário, está obrigado por seu juramento’. 18 Vocês também dizem: ‘Se alguém jurar pelo altar, isto nada significa; mas se alguém jurar pela oferta que está sobre ele, está obrigado por seu juramento’.
A partir do versículo 16 Jesus destaca a inversão de valores ensinada pelos mestres, eles supervalorizavam algumas coisas em detrimento de outras, santuário ou o ouro do santuário? O altar ou a oferta sobre o altar? Dízimo ou justiça, misericórdia e fidelidade?
Então Jesus conclui essa parte dizendo que tudo é importante, mas que não deveríamos considerar algumas coisas e omitir outras, principalmente se na classificação de Jesus existem coisas muito mais graves que precisam de atenção urgente.
Daí nós chegamos em nosso versículo chave 24, "coam um mosquito e engolem um camelo". Será que Jesus está falando sobre "pecadinho e pecadão"? O que precisamos entender é que, Jesus não está desconsiderando nenhum e nem o outro, mas destaca que os mestres da época eram muito bons no ensino da teoria da Lei e da religião, que colocavam fardos pesados sobre as pessoas, mas que ao mesmo tempo, eles mesmos não praticavam e nem se esforçavam em praticar o que ensinavam, o pior de tudo, é que essa vida de aparência ensinava e formava discípulos com um caráter completamente distorcido do que Deus esperava.
Por exemplo, o que é mais importante, o interior ou o exterior? A maneira como você se veste ou sua alma limpa de sentimentos que te fazem pecar, mesmo que por pensamentos? Pois nessa classificação precisamos considerar também os pecados que os homens não vêem, pois o prato está limpo por fora, mas Deus vê o interior que está cheio de ganância e cobiça.
Jesus não está falando que, na hora de coar vamos desprezar o mosquito, mas que precisamos tirar "os camelos" que estão no nosso interior, pois os mosquitos serão removidos automaticamente se fizermos essa limpeza interior, Jesus está falando de uma mudança de dentro pra fora onde tudo o que é mau deve ser removidos.
Jesus ensina aos seus discípulos que o homem prudente é aquele que recebe o ensinamento e pratica, pois se não fizer desta maneira é como uma casa construída sobre a areia, que vindo as adversidades da vida, logo caem (Mt 7.24-27). Os terrenos que Jesus cita para a construção da nossa fé falam de estrutura, daquilo que está interno, os fundamentos de uma casa não estão aparentes, assim como as coisas que estão em nosso coração.
No tempo em que Deus deu instruções a Moisés sobre como deveria ser a Arca da Aliança, o objeto mais precioso do tabernáculo e do templo e que representava a presença de Deus no meio do povo, a arca deveria ser feita com a melhor madeira e mesmo sendo a melhor madeira, deveria ser revestida com ouro, por dentro e por fora (Ex 25), o ouro aponta para aquilo que é divino, para a glória e santidade de Deus, pois o ouro era refinado no fogo. Não diferente de nós, pois nós (igreja) e principalmente aqueles que se levantam para ensinar (mestres), somos os representantes diretos de Deus aos homens, não basta ter ouro por fora, precisamos ter ouro por dentro também.
Jesus destaca quatro pecados que enchiam os corações dos mestres daquela época: ganância, cobiça, hipocrisia e maldade. Precisamos tomar cuidado, pois ao olhar para seus discípulos, Jesus não queria que eles tomassem esse caminho, por isso disse que deveriam receber o aprendizado teórico passado por eles (Mt 23.3), mas nunca copiarem essas atitudes, não se permitirem estar nesta posição no meio da igreja, mas com esses pecados dominando seu interior.
Esta palavra de Jesus foi dura para os mestres daquela época e é dura para nós hoje, porque também temos a responsabilidade de formar pessoas, como Paulo disse: "sejam meus imitadores como eu sou de Cristo" (1Co 11.1), temos também o dever de chamar a responsabilidade para nós e ensinarmos com o carátere a essência de Jesus, sem ganância, cobiça, hipocrisia e maldade.
Jesus disse que deveríamos entender que a posição de mestre nos faz servos e não "senhores", que devemos ter nossos coraçõesbem resolvidos quanto a essas motivações, pois todos que buscam exaltação, serão humilhados, mas todos que se humilham, serão exaltados. Fica claro que o discípulo não é o único que luta contra o pecado, os mestres também estão em uma luta constante em seus corações contra a vaidade e o orgulho.
Deus colocou essa palavra no meu coração nestes dias e a pergunta que Ele traz para todos nós que fazemos parte deste ministério é:
Quando foi que começamos a coar mosquitos e engolir camelos? Quando foi que começamos a ignorar os nossos pecados e considerar os dos outros? Quando foi que passou a ser mais importante a minha imagem do que a essência?
Esses "ais" que Jesus deliberou sobre os escribas e fariseus podem ser para nós também.
Jesus não despreza coisas grandes e nem pequenas, Jesus diz:
Mateus 7:3 "Por que você repara no cisco que está no olho do seu irmão, e não se dá conta da viga que está em seu próprio olho?
4 Como você pode dizer ao seu irmão: ‘Deixe-me tirar o cisco do seu olho’, quando há uma viga no seu?
5 Hipócrita, tire primeiro a viga do seu olho, e então você verá claramente para tirar o cisco do olho do seu irmão.
Neste texto Jesus fala de pecados grandes e pequenos, é simples entendermos isso, não devemos pensar que os pequenos não nos trarão consequências, mas fica claro que existem coisas mais devastadoras do que outras para a nossa vida mortal, porém o pecado, seja ele grande ou pequeno, pode nos levar ao inferno se não nos arrependemos.
Mas neste texto de Mateus 7 temos uma pessoa, que Jesus diz ser hipócrita, ele quer tirar um cisco do olho de um irmão e ignora o fato de que há uma viga no seu próprio olho, Jesus está querendo dizer: "te incomoda o que seu irmão faz? Mesmo você fazendo coisas bem piores? Por que o que você faz de errado não te incomoda tanto?"
Será que aprendemos a engolir mosquito? Nos tornamos hipócritas ou insensíveis a ponto de não sentirmos uma viga nos olhos ou um camelo?
Perceba que Jesus não fala que o irmão deveria permanecer com o cisco no olho e nem que não deveríamos ajudar a remover, mas que antes de tudo, resolvêssemos o nosso problema. Antes de ser mestre preciso resolver meus problemas, preciso limpar o meu interior, pois se não fizer isso, posso comprometer a formação daqueles que aprendem de mim e nas palavras de Jesus, numa situação como essa, talvez não tenha nem mesmo autoridade para tirar o cisco do meu irmão.
Em outro momento Jesus havia libertado um homem do poder dos demônios que o faziam surdo e mudo, todo o povo dizia que Jesus era o Messias, mas quando os fariseus ouviram isso, disseram que Jesus estava expulsando demônios por outro demônio que chamaram de Belzebu (Mt 12.22-24). Os religiosos estavam diante de Deus encarnado, mas o problema do pecado no coração deles era tão terrível, que não conseguiam mais enxergar o erro em si, não conseguiram reconhecer a manifestação de graça, amor e verdade em Jesus, assim também somos nós quando permitimos ser dominados por esses pecados, pois eles não respeitam idade, cargos ou patentes, a vaidade anda sempre de mãos dadas com a inveja. Podemos estar diante de alguém fiel a Deus e usado por Ele, mas apontarmos neles os erros que não enxergamos em nós.
Jesus o mestre dos mestres nos chamou a aprender dele, ser manso e humilde de coração (Mt 11.29), veja que essas duas características que Jesus deseja que aprendamos são coisas que precisam encher nosso interior, pois nós refletimos aquilo que está dentro, se não houver essas características, não serei impedido de ensinar, porém, por mais que o ensino ou o conteúdo seja bom, a vaidade e a prepotência poderão ser percebidas na minha fala e no meu comportamento, em minha falta de controle posso falar ou tomar atitudes que enfernizam os ambientes mais do que promovem edificação, mesmo falando de Deus e de Bíblia.
Tenho consciência de que as palavras deste texto são amargas, porém como eu disse, não apenas os discípulos lutam contra o pecado, os mestres e líderes também, e o próprio Jesus listou neste texto, que estejamos atentos e vigilantes.
Espero que Deus tenha falado ao seu coração, que Deus te abençoe!
Essa é uma busca diária, batalhar p/ ser e ajudar a formar seres humanos melhores.A motivaçao, a intenção de td que fazemos no reino, é o que vale, e se nao for de qualidade,perde se tempo e tudo que nao podemos, perder tempo...
ResponderExcluirVerdade minha irmã, o tempo é uma das coisas mais preciosas que temos na vida.
ExcluirDeus te abençoe!
Amém.
ResponderExcluirAmém minha irmã!
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