1 João 3:8b Para isso o Filho de Deus se manifestou: para
destruir as obras do diabo.
Nós bem sabemos dessa verdade que encontramos nas Escrituras, mas
gostaria de te fazer uma pergunta, quais são essas obras do diabo? O que pra
você seria “as obras do diabo”?
A primeira idéia que me vem, ou que me vinha na cabeça
quando eu ouvia essa expressão, era que Jesus veio expulsar demônios, curar
doenças, tirar pessoas do tráfico, da prostituição, dos diversos tipos de
imoralidade sexual, coisas semelhantes a essas, mas entender que as obras do
diabo se resumem a isso é ter uma visão muito superficial do que realmente
podemos entender dessas obras.
Poderíamos perceber com clareza que a obra que matou todos
os homens descendentes de Adão não foi nenhum dos pecados que consideramos
monstruosos, mas a “simples” desobediência. Isso aconteceu por conta de uma das
obras do diabo, uma obra que continua sendo realizada por ele e levando
inúmeras pessoas à queda, a mentira.
A Mentira
João 8:44 "Vocês pertencem ao pai de vocês, o diabo, e
querem realizar o desejo dele. Ele foi homicida desde o princípio e não se
apegou à verdade, pois não há verdade nele. Quando mente, fala a sua própria
língua, pois é mentiroso e pai da mentira.
A mentira é uma das obras que o inimigo usa desde o
princípio, toda a humanidade foi comprometida por conta dela. Falo sobre esse
tema para que tenhamos uma consciência transformada quanto a essa questão, pois
como citei antes, não nos basta deixarmos de cometer pecados “monstruosos” se
continuamos mentindo, a mentira tem muitos níveis de ação na vida dos homens.
Temos aquele que mente deliberadamente, que inventa
historias irreais, mas temos aquele que mente por demonstrar algo externamente,
mas ser outra coisa internamente, claro que não quero ser radical neste ponto,
claro que tem dias que não estamos bem, mas vamos nos esforçar para não
contagiar as pessoas ao nosso redor com nossa tristeza, mas digo ser
exteriormente uma coisa de forma constante e interiormente outra, quando a
proposta do evangelho é realmente outra, é vivermos uma transformação interior
e isso fará com que ela seja refletida em nosso exterior.
Este texto de Jo 8.44 fala de o diabo ser homicida,
mas isso não é surpresa para nós, só que a morte que ele provocou no início não
foi por meio de armas de fogo, de bombas nucleares, mas a própria mentira. Não
tenho dúvidas que outras tantas vezes os homens foram e continuam convencidos
pelas suas mentiras a fazer tudo ao contrário do que Deus quer e que essa
rebelião continua trazendo morte e condenação.
Jesus não veio desfazer as obras do diabo no sentido de
parar o que ele (em “pessoa”) está fazendo, mas no sentido de nós pararmos de
reproduzir em nossa vida pecaminosa as obras do diabo. Não precisamos apertar
um gatilho para fazer as obras do diabo, basta mentirmos. Gostaria de usar um
texto agora para refletir com você sobre algumas obras do diabo que precisam
ser interrompidas em nossa vida, pois foi pra isso que Jesus veio ao mundo, é
muito importante que ao ler esta frase de que “Jesus veio desfazer as obras do
diabo” (1Jo 3.7-10), mas com todo o seu contexto, que remete ao nosso
comportamento após a conversão, o novo nascimento, a transformação da nossa
mente pelo seu sangue.
João 10:10 O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a
destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham com
abundância.
12 Mas o mercenário, e o que não é pastor, de quem não são
as ovelhas, vê vir o lobo, e deixa as ovelhas, e foge; e o lobo as arrebata e
dispersa as ovelhas.
13 Ora, o mercenário foge, porque é mercenário, e não tem
cuidado das ovelhas.
Ladrão, Mercenário, Lobo.
Neste texto nós temos uma referência direta ao diabo, não somente a ele,
mas ao que ele faz, suas obras. Roubar, matar e destruir, mas o texto não fala
somente do ladrão, ele fala de mais dois personagens, o Mercenário e o
lobo.
Fica claro quem é o ladrão e suas intenções, ele quer
roubar, matar e destruir, mas ele não fará isso sozinho, quase sempre faz isso
em conjunto e através de pessoas, ou seja, são suas obras pelas pessoas.
Jesus usa uma linguagem comum e de fácil compreensão ao
falar de ovelhas e pastor, até hoje usamos esses tipos para ilustrar o
relacionamento que os membros de uma comunidade evangélica tem com sua
liderança, o relacionamento de ovelhas e pastores. Na época de Jesus era comum
a criação de ovelhas, o trabalho do pastor, os perigos no campo, ataques de
bestas feras, inclusive de lobos. Mas os pastores tinham o compromisso de
cuidar das ovelhas e as vezes isso significava defendê-las de ataques de
cobras, leões, ursos e lobos (Temos exemplo de Davi 1Sm 17.36,37), o mesmo Davi
recebeu uma missão de seu pai e vemos a atitude de Davi referente às ovelhas
que estavam sob seus cuidados, antes de sair deixava o rebanho com outro pastor
para que elas estivessem seguras dos ataques (1 Sm 17.20).
Nas palavras de Jesus em Jo 10. 10,12,13 ele fala do perigo
do ladrão, este pretende roubar, mas não apenas isso, ele vai matar e destruir
o rebanho, somente uma coisa pode impedi-lo, um pastor como Davi, um pastor
como Jesus. Estes deixaram um grande exemplo, eles estavam dispostos a dar a
própria vida pelo rebanho. Precisamos entender que o perigo não está em ter
ladrão, ele existe desde o princípio e a intenção dele é a mesma, o perigo
consiste em quem estiver cuidando das ovelhas, na possibilidade de aquele que
está cuidando delas não ser um pastor, mas ser um Mercenário, pois este
quando perceber que pode ser prejudicado, ferido ou até mesmo morto pelo
ladrão, ele foge, ele abandona as ovelhas.
Interesse, Egoísmo
O mercenário só pensa no que vai receber por cuidar das
ovelhas, em outras traduções nós encontramos o termo mercenário como Assalariado,
ou seja, alguém que só faz porque está recebendo por aquilo.
O que seria a obra do diabo aqui neste texto? Não só o
matar, roubar e destruir, mas o interesse pessoal e egoísta quando
aparentemente estamos cuidando de outros, talvez esse ponto nos faça
entender 1Co 13.3 quando diz que “ainda que eu distribuísse toda a minha
fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse meu corpo para ser
queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria”, sempre me perguntei
como isso seria capaz, mas entendo que isso é capaz sim, pois podemos assumir
uma posição extremamente importante para outras pessoas, fazermos coisas que
demonstram inteiro cuidado que temos com elas e ainda assim ter interesses
pessoais, nem que seja simplesmente o status, ter o nome gravado na história,
não foram poucos os homens que se entregaram à morte pelo desejo de serem lembrados
como um grande homem, Jesus morreu pela humanidade, mas conforme lemos em Fl 2,
Ele se esvaziou de sua glória, não tinha interesse em ser Deus, mas em obedecer
e salvar os homens, e mesmo quando um homem faz algo parecido hoje, precisamos
entender que isso não faz referência ao próprio homem, mas à Cristo, Paulo diz
que somos pecadores, que até aquilo que desejamos fazer, não fazemos, e aquilo
que não queremos fazer, isso fazemos, pois o pecado habita em nós (Rm 7.20). Um
mercenário pensa no salário, pensa em quê e em quanto vai ganhar por cuidar
daquelas ovelhas, é muito fácil pensar na referência de pastor, mercenário e
ovelha apenas pensando no pastor ordenado ao ministério, mas gostaria de
aprofundar esse entendimento junto de você para que entenda que este
comportamento, este sentimento mau não está somente nos corações dos pastores
que se fizeram mercenários no ministério por concentrarem seus esforços na
busca por status e lucro em cima das ovelhas, mas que todos nós como pessoas
podemos manifestar essas atitudes e sentimentos em nossos relacionamentos,
tendemos a nos relacionar com as pessoas pensando em que podemos ganhar com
isso, em que essa pessoa pode me ser útil, relacionamentos baseados em
interesses completamente egoístas.
Podemos ser assim nas amizades, quando o amigo tem dinheiro,
quando o amigo é popular, enquanto ele é saudável, enquanto ele me agrada, ou
me apóia. Percebemos muitas amizades acabando quando um dos lados não se sente
mais beneficiado pelo outro lado, Jesus não é mercenário em seus
relacionamentos, ao receber o beijo de Judas permaneceu sendo seu amigo (Mt
26.49,50).
Podemos ser mercenários no nosso namoro ou casamento,
dependemos do bem que o outro possa nos oferecer para também oferecermos o bem,
claro que todos nós esperamos haver reciprocidade nos relacionamentos, mas a
característica do filho de Deus, do homem que é nascido de novo e tem o
Espírito de Deus é exatamente isso, amar quem não é amável.
Mateus 5:44 Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que
vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e
vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus;
Pensando sobre esses textos e em como as coisas fazem sentido, percebi
uma atitude bem provável de um mercenário, na hora do conflito com o ladrão ele
foge, ele abandona, ou seja, na hora que a ovelha que ele deveria cuidar mais
precisa, ele foge.
Abandono.
As obras do diabo são manifestas também no abandono, pense comigo nesta
cena, o ladrão atacando o rebanho e o mercenário fugindo e correndo, ou o lobo
atacando e o mercenário correndo, fugindo para não ser ferido, ele não quer ser
ferido, ele não quer sofrer prejuízos, todo ser humano tem a tendência à
auto-preservação da vida, é bem comum fugirmos de situações que possam nos
ferir e que claramente irão nos trazer prejuízos, mas precisamos rever nosso
cristianismo, pois diz as Escrituras que Jesus tendo nos amado, nos amou até o
fim (Jo 13.1). Não são poucos os que abandonaram seus amigos, namorados,
cônjuges, pais, famílias, sei que isso pode ser duro de aceitar, mas quem sabe
você tem feito isso, ou até pensado nisso, será que junto à sua idéia de se
afastar de alguém não está o pensamento “você precisa parar de ser bobo”, “você
tem direito a ser feliz”, pense que se você ainda precisa fazer algo para ser
feliz, inclusive algo que o Senhor não aprova, é sinal de que ainda não
encontrou a felicidade, pois a felicidade plena encontramos em Deus e a partir
daí o prazer da nossa vida está em obedecermos a sua Lei (Sl 1.2).
Chegamos até aqui e vimos que as obras do diabo não são
apenas algumas coisas monstruosas que citamos no início, que não são apenas o
roubar, matar e destruir, mas encontramos nas nossas atitudes as obras do
diabo, já falamos do ladrão, do mercenário que é interesseiro, egoísta e que
abandona quem precisa, agora iremos falar do lobo.
Lobo - Ataca e dispersa.
De acordo com o texto de Jo 10.12 o lobo ataca e dispersa o rebanho,
temos vivido em uma época não muito diferente do primeiro e dos séculos
seguintes da igreja, tempo de ataques, isso também caracteriza-se como sendo
obra do diabo, os ataques são diversos e em várias categorias, sendo ataques
diretos contra templos, contra cristãos que são torturados e mortos, ataques
ideológicos, como acompanhamos no Brasil. Mas precisamos entender a estratégia
do lobo quando ataca a igreja, sua intenção, o resultado desse ataque, Jesus
mesmo disse o resultado do ataque do lobo, ele dispersa o rebanho, ele separa
as ovelhas.
As obras do diabo são os ataques que dispersam o rebanho (Jo 10.12),
preciso te chamar a atenção para o fato de que a perseguição que foi investida
na igreja ao longo dos anos nunca enfraqueceu a igreja ao separá-la, pelo
contrário, a igreja se tornou mais forte e unida. É também impressionante o que
temos visto hoje na igreja pós-moderna, temos visto esses ataques acontecendo
entre pessoas que se consideram igreja, é como se a mão esmurrasse outra parte do corpo que faz parte, atacam uns aos outros em suas redes,
são frases, são indiretas, são fotos, memes, são vídeos, são opiniões que ao
mesmo tempo que atacam, espalham o rebanho, enfraquecem o rebanho, torna uma ou
outra ovelha mais vulnerável ao ataque mortal, não conseguem resistir a
tentação de expor suas idéias, pois considera-se mais sábio do que o outro, sua razão está a cima do bom senso e preservação da unidade do corpo, sem
perceber (ou percebendo e ignorando) que o mundo não está mudando para a melhor com suas expressões, mas
sua comunidade de fé sim e negativamente.
Não foi a toa que senti de escrever sobre este assunto, acho
extremamente necessário nesses dias, são muitas guerras teológicas, ideológicas e políticas, é muita
manifestação de egoísmo, são muitos os ataques, da mesma forma que muitos
entram pelas portas da igreja, muitos também saem, pois falta nela aquela
comunhão da igreja primitiva. Quando pararemos de nos expor em redes
apontando o erro dos outros? Se nos achamos incumbidos dessa missão, por que não
falamos diretamente e no privado? Por que declararmos tanto ao mundo, quando
deveríamos entregar à Deus em oração? Com quem aprendemos tanto a usar o sarcasmo? Quem nos convenceu de que temos que
entrar em lutas, debates e discussões? Vejo Paulo em alguns debates no livro de
Atos, mas vejo sua motivação e o resultado desses debates, sempre terminava com
vidas salvas. Quantos temos salvado nesses debates intermináveis pelas redes
sociais?
Jesus veio para desfazer as obras do diabo, isso vai muito
além do que propriamente o que o inimigo faz, tem muito a ver com o que fazemos
e que são semelhantes as obras dele, o novo nascimento eliminará de nossas
vidas tais sentimentos e atitudes, talvez este período da história não seja
apenas para o mundo reconhecer a soberania de Deus, creio eu que Deus quer
despertar sua igreja para que reveja seus conceitos e valores, para que faça
uma revisão em seu interior e veja se suas obras se parecem mais com as de
Cristo ou com as obras do diabo.
#PenseNisso
#DeusTeAbençoe
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